A vida apresenta-se sempre como uma sequência de ínfimos instantes. Cada instante comporta uma série de infinitas combinações. Um conjunto de instantes forma um momento. E cada momento é algo particular e aleatório. Mas é o que fica e nos tem sentido. Quantas vezes já nos beijamos e declaramos o nosso amor? Não se pode contar. Mas nosso primeiro beijo, (lembra?), debaixo da marquise onde nos abrigávamos da chuva, está em nós como um memorial. Quando me lembro dele sinto o cheiro de teu perfume; o brilho em teus olhos, o rubor de tuas faces. Quantas vezes eu quisera aquele momento, adiado por imaturos receios. Você apoio seu corpo ao meu, encostou sua cabeça em meu ombro; quando eu abri os olhos, teu sorriso me envolvia. Hoje, enquanto esperava-te, um aroma de café me fez lembrar a primeira vez que te vi. Eu aproximava-me da janela com a xícara. Você subia a rua do outro lado da calçada. Acompanhei-te até que sumistes no horizonte. Naquele instante, sim, foi um instante, não me passou pela cabeça que um dia estaríamos juntos. O fato é que a xícara despencou janela abaixo. Dias depois nos encontramos na mesma sala de aula. Mas quantas vezes em três anos conversamos? E nosso encontro sob aquela marquise, não foi um imprevisto? Tivéssemos planejado, talvez não acontecesse. Lembras de um passeio que fizemos, no segundo ano? Passei a noite em claro, arquitetando um modo de ficar só contigo e pedir-te em namoro. Nada deu certo. Mesmo assim, pintou uma oportunidade: eu emudeci. Um momento não tem uma extensão de tempo prevista: dura um segundo; dura uma vida toda. É sempre uma combinação aleatória de instantes nos dando sentido. E o beijo que neste instante nos damos é sempre o primeiro beijo que não se esgota desde o dia em que subias a rua do outro lado da calçada e uma xícara de café estatelada no chão chamava-te a atenção.
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