“Eles são homens e fizeram porque aprenderam que podiam fazer” (Pitty)
Eu já fiz muita coisa que contribui com a cultura do estupro. Já assinei revista pornográfica, já assinei sites pornográficos, já participei de despedidas de solteiro em Drinks Bar, e já frequentei Drinks bar sem a despedida de solteiro. Já incentivei concursos de misses, já fui em festas e baladas apenas para “caçar”, já fiz psiu e chamei a menina de tudo aquilo que um homem chama uma mulher. Nas atividades domésticas, minha esposa arca com tudo. Como escritor, já escrevi alguns textos machistas, ou de uma perspectiva minha sobre o erotismo que envolve uma relação sexual homem-mulher. Dizem por ai que somos produto da cultura, poderia me escusar então: Eu sou o que a minha cultura é! Cultura se escolhe? Creio que não! Temos uma outra cultura? Então eu sou machista e meu pai, meus irmãos e minha esposa, minha mãe, minhas irmãs e cunhadas também são. Mas mesmo numa cultura machista aprendemos a respeitar uns aos outros, a resolver problemas com o dialogo. Nunca presenciei um conflito entre meu pai e minha mãe que tenha acabado em agressão. E as brigas que tive com minhas irmãs nunca foram porque elas eram mulher e eu homem, mas porque eu brincava com suas roupas e suas bonecas. Meu pai não me ensinou que eu podia violentar uma mulher. Pelo contrario: “a mulher desviou o olhar ou guardou silêncio, recolhe-te em teu canto”, foi o que me aconselhou certa vez. Tio dizia que mulher se conquistava sem cativar. Ele sim tinha uma frase machista: “mulher no cabresto, chifre certo no caboclo”. Confesso estar confuso: já não sei mais se devo ou não oferecer flores para uma mulher, se devo ou não fazer-lhe um elogio, ser ou não delicado e ceder-lhe o lugar, já não sei se devo ou não sorrir para uma mulher, tudo coisas que vó me ensinou. E vó era muito machista: “mulher tem que saber de seu lugar”, ensinava às meninas. Já nem sei mais se devo continuar escrevendo. Tudo, hoje, precisa ser medido, um acento fora do lugar, uma virgula esquecida ou a mais, e tudo se torna agressão. Então, o que me proponho todos os dias é ser um pouco melhor, buscando compreender minha cultura, assumir nova postura, superar minhas contradições. Eu tenho evitado amigos misóginos, machistas, racistas, homofóbicos etc. Acredito que, mesmo numa cultura machista, a violência contra a mulher é uma luta que tem que contar com os homens. Eu (aqui falo por mim), mesmo machista, sempre me coloquei contra qualquer forma de violência; me proponho a rever atitudes, comportamentos, formas de pensar. Numa sociedade machista como a nossa, nem todo homem é um ogro. Mesmo assim, precisamos refundar as relações entre homens e mulheres, produzir uma nova cultura. Essa nova cultura só se dará se homens e mulheres estiverem juntos, combatendo o que precisa ser combatido. Mas eu quero ouvir as mulheres, por estarem no prejuízo: que elas nos digam que homens elas esperam que sejamos! Quando vó me ensinava eu sabia, mas vó era machista. Não a estou culpando, era a sua cultura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário