Tenho
um amigo fantasma que diz ter sido mordomo de Pedro II. Geralmente ele me
aparece quando estou a ponto de “azarar” alguma garota. Ele é mestre em me
colocar em situações vexatórias. É no entanto um bom companheiro em horas de
incertezas e angustias. Leopoldo é seu nome. Leopoldo tem uma conversa vivas,
cativante e mesmo insidiosa. Durante muito tempo encasquetou que eu deveria ser
bispo e, “quiçá papa”. Depois, desiludido, por minha pífia figura no seminário,
encasquetou que eu deveria ser político. Propôs a ser meu mestre, gabava de ter
“sido conselheiro do infante imperador em grandes decisões imperiais”. Resumiu
seus ensinamentos a um fábula de Liev Tolstói. Segundo tal fábula um leão e um
urso “acharam um pedaço de carne e começaram a brigar por ele. O urso não
queria ceder e o leão também não. Brigaram tanto que os dois perderam as forças
e caíram deitados. A raposa viu a carne entre os dois, apanhou e fugiu”. Estava
prestes a desabotoar a blusa de Marcela, uma loirinha estrábica e aparelhos nos
dentes, quando Leopoldo se fez presente. “Meu caro Don Juan, que vexame! Que
vexame! Estou deveras desapontado!” Vexado e desapontado estava eu, que não
sabia onde meter a cara diante de Marcela se recompondo e exigindo uma
explicação para meu súbito relaxamento. Já previa minha fama no dia seguinte.
Leopoldo estragou meu affair apenas para traduzir-me uma corruptela do texto de
Tolstói. “Cabe para nossos dias”, dizia ele, todo bonachão e narrou-me a
corruptela: “Um asno e um jumento acharam uma espiga de milho e brigaram por
ela até extenuarem-se. Quando caíram deitados, veio um rato e se apossou da
espiga”. “Leopoldo”, reagi indignado, “você interrompeu minha foda pra isto?” Leopoldo
sorriu-me desapontado e desapareceu. Eu não entendi nada! Você, caro leitor,
entendeu?
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