sexta-feira, maio 13, 2016

O ASNO O BURRO O RATO




Tenho um amigo fantasma que diz ter sido mordomo de Pedro II. Geralmente ele me aparece quando estou a ponto de “azarar” alguma garota. Ele é mestre em me colocar em situações vexatórias. É no entanto um bom companheiro em horas de incertezas e angustias. Leopoldo é seu nome. Leopoldo tem uma conversa vivas, cativante e mesmo insidiosa. Durante muito tempo encasquetou que eu deveria ser bispo e, “quiçá papa”. Depois, desiludido, por minha pífia figura no seminário, encasquetou que eu deveria ser político. Propôs a ser meu mestre, gabava de ter “sido conselheiro do infante imperador em grandes decisões imperiais”. Resumiu seus ensinamentos a um fábula de Liev Tolstói. Segundo tal fábula um leão e um urso “acharam um pedaço de carne e começaram a brigar por ele. O urso não queria ceder e o leão também não. Brigaram tanto que os dois perderam as forças e caíram deitados. A raposa viu a carne entre os dois, apanhou e fugiu”. Estava prestes a desabotoar a blusa de Marcela, uma loirinha estrábica e aparelhos nos dentes, quando Leopoldo se fez presente. “Meu caro Don Juan, que vexame! Que vexame! Estou deveras desapontado!” Vexado e desapontado estava eu, que não sabia onde meter a cara diante de Marcela se recompondo e exigindo uma explicação para meu súbito relaxamento. Já previa minha fama no dia seguinte. Leopoldo estragou meu affair apenas para traduzir-me uma corruptela do texto de Tolstói. “Cabe para nossos dias”, dizia ele, todo bonachão e narrou-me a corruptela: “Um asno e um jumento acharam uma espiga de milho e brigaram por ela até extenuarem-se. Quando caíram deitados, veio um rato e se apossou da espiga”. “Leopoldo”, reagi indignado, “você interrompeu minha foda pra isto?” Leopoldo sorriu-me desapontado e desapareceu. Eu não entendi nada! Você, caro leitor, entendeu?   

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