É, nós sabíamos que Michael Ellias (Mika) era estranho. Soturno, tinha aquele olhar para dentro e um riso alienado. Ele não gostava, mas, nas brincadeiras o tratávamos como “café com leite”. As meninas o evitavam e o chamavam Nosferatu. Nós sabíamos de sua debilidade, de sua pouca compreensão da realidade e sua misoginia. Sabíamos. Foi o Gustavo Lima que nos deu a ideia. O Marcos trouxe-nos umas revistas do pai, passamos a tarde nos masturbando e comparando as figuras das revistas com nossas irmãs e primas. “E se a gente mostrar pro Mika?”, comentou o Gustavo. Nos divertimos com Mika e sua repulsa raivosa às imagens na revista. “Sabe Mika”, começou o Adalberto, “a R., do segundo ano, ela quer fazer isso contigo”, e mostrava-lhe a cena da revista. Mika enfurecia-se, gaguejava, tentava a custo tomar-nos a revista. Riamos e repetíamos mantramente “R. quer chupar o Mika”. O resultado da brincadeira foram três ponto na testa de Adalberto, Mika avançou contra ele para tomar-lhe as revistas, Adalberto, desvencilhando, bateu com o rosto na porta. Nós não gostávamos de R., ela parecia moleque e gostava de andar com uns pretos do morro. Não gostávamos deles também, eram trombadinhas. Mas R. preferia andar com eles a nos dar bola. Continuamos importunando Mika com nosso mantra, acrescentando uma ou outra frase: “ela vai enfiar o dedo no teu cú”, “ela vai cortar o teu pinto”. Era divertido deixar o Mika nervoso. Nos vingávamos de R. . R. um dia, apareceu morta no campo de educação física. Nua, tinha a língua e o dedo médio cortados. O dedo médio foi encontrado no reto. Sabíamos que Michael Ellias era estranho e o insidiamos. A culpa, no entanto, era de R. . Ela não tinha recato. Depois, prenderam um preto no morro, não se tocou mais no assunto. Michael Ellias assumiu a presidência do grêmio. Prometeu que só os alunos com mais de três nomes fariam uso do refeitório.
Por
Fernando Henrique Neves de Mello Mendes
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