Eu
não tenho nada contra a propriedade privada. Tenho contra a concentração
obscena da propriedade. Eu não combato os que alentam possuir bens materiais,
ter uma vida confortável, ficar rico, combato os que acreditam ser só eles
detentores de tal direito. Uma grande
parte das pessoas querem apenas poder comer, vestir, calçar, educar-se,
trabalhar, fruir tempo livre. Mas há os que se assoberbam dos bens produzidos e
da propriedade privada como bens exclusivos por “uma ordem de mérito” quando é
de clara injustiça social. Sabemos bem como muitos latifúndios foram criados.
Sabemos bem como muitos de nossos ricos, ficam ricos: explorando, extorquindo,
agiotando, desviando recursos públicos para contas pessoais. Estes desconsideram que – “se ter é condição para ser, esta é uma condição
necessária a todos os homens” (Paulo Freire) – os alijados e expropriados
também tem direito à propriedade privada, o mínimo para garantir-lhes
dignidade. Nem todo mundo sonha em ser empresário, fazendeiro, morar em Miami,
visitar o mundo. Há pessoas que sonham apenas com a possibilidade de plantar
uma roça e comer de seu fruto, ter uma casa modesta, um escola boa para os
filhos, um atendimento respeitoso em postos de saúde e hospitais. Estes desejos
parcos doem na alma dos opulentos e o lenitivo que eles encontram é o acumular
mais e mais e o reprimir mais e mais os alijados.
O
capitalismo funciona? Funciona! "Um de cada 100 habitantes do mundo tem
tanto quanto os 99 restantes; 0,7% da população mundial monopoliza 45,2% da
riqueza total e os 10% mais ricos têm 88% dos ativos totais, segundo a nova
edição do estudo anual de riqueza publicado pelo banco suíço Credit Suisse,
feito com dados do patrimônio de 4,8 bilhões de adultos de mais de 200
países"*. Num mundo com 6 bilhões
de habitantes, “apenas trinta e dois milhões de pessoas podem ser consideradas,
de fato, ricas, sendo que 161 delas controlam cerca de 140 corporações que, por
sua vez, dominam praticamente todo o sistema econômico e político do mundo”** .
A
imagem que melhor explica o capitalismo para mim é a do médico contratado pelo
SUS que vai até seu posto de trabalho assina o ponto contorna e vai para sua
clinica particular, onde recebe do plano de saúde, do paciente e do SUS pelo
atendimento que não ofereceu no SUS. Esse mesmo médico aparece no fim do dia na
televisão anunciando que o SUS precisa ser privatizado para funcionar. O
sujeito que ficou o dia todo esperando por seu atendimento tende a concordar,
porque quando pagou “foi rapidinho”.
Eu e
a massa de gente que me espreme todos os dias no cargueiro da CPTM nos
sentiríamos um pouco mais ricos se fossemos transportados com mais dignidade.
Mas as pessoas que desviaram os recursos para as melhorias do sistema
ferroviário para manter e ampliar suas riquezas, nos veem apenas como números e
não como pessoas.
Essas
duas imagens é, para mim, e posso estar enganado, a essência do capitalismo.
*http://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/13/economia/1444760736_267255.html
** http://jornalggn.com.br/blog/marcio-valley/a-espantosa-distribuicao-da-riqueza-mundial
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