Dificilmente
leio o jornal, mas costumo todas as manhã, indo para a estação, correr os olhos
pelas noticias. Fico sabendo que Michel, de 7 anos, tem dois milhões em
imóveis. Não me dou ao caso, fico especulando o que eu faria com dois milhões. Talvez
não acordaria tão cedo, principalmente em dias de chuva e frio.
Já acomodado
no comboio da CPTM, acompanho dois senhores comentando:
“Você
viu, aquele que foi ministro na ditadura dizendo que o golpe é alucinação de
gente desesperada? Era um que dizia que o bolo tinha que crescer para depois
dividir!”
Uma
senhora de voz arrastada e cansada pediu licença na conversa e deitou a
palavra:
“Disse
o tal lá no poder, aquele de sorriso falso, sem personalidade: “Não pense em crise:
trabalhe!” É, eu trabalho. É dos doze anos que trabalho, já vivenciei muitas
crises. A conta sempre bateu em nosso lombo. Sempre!... Sempre ouvi falar deste
bolo, que não chega cá pra nós nunca. Aos setenta ainda trabalho. Mas esse
bosta assediado lá em Brasília, lá onde se roubam nossos sonhos de uma casinha
e aposentadoria dignas, ousa dizer-me “não pense: Trabalhe!” De uma pessoa
dessa, que pensa sermos pateta, não se pode ter respeito não. Pudesse eu lhe
diria, olhando em sua fuça: “Embusteiro de uma figa, serviçal dos podres
poderes que nos espezinha, o senhor que se dê o trabalho: pede licença e vá se
defecar na casa do caralho - desculpe o palavreado”, tossiu a senhorinha
envergonhada!
Olhei
ao redor, poucos davam atenção. Eu voltei a pensar nos dois milhões do pequeno
Michel. Não pensava mais no que faria se os tivesse. Conclui serem fatia de bolo-sonho
roubado àquela senhorinha. Seu palavreado estava desculpado. Eu mantenho minha
alucinação: É GOLPE!!
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