quarta-feira, junho 01, 2016

TRABALHE! É GOLPE!




Dificilmente leio o jornal, mas costumo todas as manhã, indo para a estação, correr os olhos pelas noticias. Fico sabendo que Michel, de 7 anos, tem dois milhões em imóveis. Não me dou ao caso, fico especulando o que eu faria com dois milhões. Talvez não acordaria tão cedo, principalmente em dias de chuva e frio.

Já acomodado no comboio da CPTM, acompanho dois senhores comentando:

“Você viu, aquele que foi ministro na ditadura dizendo que o golpe é alucinação de gente desesperada? Era um que dizia que o bolo tinha que crescer para depois dividir!”

Uma senhora de voz arrastada e cansada pediu licença na conversa e deitou a palavra:

“Disse o tal lá no poder, aquele de sorriso falso, sem personalidade: “Não pense em crise: trabalhe!” É, eu trabalho. É dos doze anos que trabalho, já vivenciei muitas crises. A conta sempre bateu em nosso lombo. Sempre!... Sempre ouvi falar deste bolo, que não chega cá pra nós nunca. Aos setenta ainda trabalho. Mas esse bosta assediado lá em Brasília, lá onde se roubam nossos sonhos de uma casinha e aposentadoria dignas, ousa dizer-me “não pense: Trabalhe!” De uma pessoa dessa, que pensa sermos pateta, não se pode ter respeito não. Pudesse eu lhe diria, olhando em sua fuça: “Embusteiro de uma figa, serviçal dos podres poderes que nos espezinha, o senhor que se dê o trabalho: pede licença e vá se defecar na casa do caralho - desculpe o palavreado”, tossiu a senhorinha envergonhada!    

Olhei ao redor, poucos davam atenção. Eu voltei a pensar nos dois milhões do pequeno Michel. Não pensava mais no que faria se os tivesse. Conclui serem fatia de bolo-sonho roubado àquela senhorinha. Seu palavreado estava desculpado. Eu mantenho minha alucinação: É GOLPE!!

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