Não
queria vir direto pra casa. Voltar pra casa tem sido a última de minhas
vontades. Desci, então, na Bento Madureira, decidido a tomar uma ou duas
cervejas. Fui ao Beirute, geralmente o Adair está por lá. Precisava ser apunrrinhado.
Pedi uma Vodka, um torresmo. Algumas pessoas bebiam e conversavam sobre o jogo
na tela. Um grupo de alunos chegou. Iam comemorar o aniversário de um deles.
“Professor!... O senhor aqui?”, como se professor não tivesse vida social.
Tandara, uma moreninha, esguia, olhos esverdeados. Uma que senta no fundo,
quase não fala, está sempre com aquela outra menina, a Patrícia, aquela que
você vive dizendo: “está menina não vem pra escola, vem fazer ponto”... Tandara
sentou-se do meu lado: “Senhor bebe pinga?” “Não é pinga, é Vodka”, respondi.
“Uma cerveja na conta do Borges”, pediu um dos meninos. “Desculpem-me, mas eu não
pago bebida para alunos!” “Não é o senhor quem diz que só é professor na
escola? Então, nós só somos alunos na escola!” Tandara sorriu-me: “aqui somos
Tandara e Borges”, tomando meu copo e bebelicando: “brhuuu!”. Senti o toque de
sua mão sobre minha perna: “É forte né, desce queimando!”. Apenas sorri-lhe.
“Nossa!” “O que ouve?”, perguntei-lhe. “O teu olhar, senti-me toda dentro
dele!”, respondeu-me. “Vê, estou toda arrepiada!”. Pedi a conta. “Já, nem
chegamos!”, Tandara desaprovava-me, fazendo beiço. Preciso ir, amanhã tenho uma
turma pré-vestibular. Paguei a conta, deixei duas cervejas pagas, sai. “Então,
até uma próxima vez Borges”, com uma inclinação de voz, que pareceu-me um
convite. “Até quarta! Não bebam muito, não façam besteira!”... Vinha pensando
naquela cena com Tandara, a sua atitude me surpreendera. Não era a mesma
Tandara do segundo ano, que se anula num fundo de sala... Senti passos me
acompanhando, virei-me uma duas vezes, mas não vi ninguém... Eu devia ter
continuado em frente e vindo pra casa. Voltei ao Beirute. “Eu sabia que você ia
voltar!”, sorriu-me Tandara, com um copo de Vodka.
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