HUMANO
Para
Elvis Almeida
Vô
nos explicava que cada semente lançada ao solo era uma possibilidade de vingar
ou não, mas, vingando, não seria outra coisa a não ser o que esperávamos que
ela fosse. “De tomate não nasce abóbora”, resumia vó. O ser humano, retomava
vô, é uma incógnita, um mistério, dele podemos apenas alentar um modelo a que
estamos sempre aquém. “Plantando abóbora é capaz que surja pepino”, ironizou
vó. Tia contou-nos então, a História de Luiz Martins de Souza Dantas e Aracy
Guimarães Rosa, brasileiros que viveram os tempos sombrios de holocausto e
contra todas as restrições burocráticas ajudaram inúmeros judeus a deixarem a
Alemanha nazista. Eles não figuram em nossos livros de história, mas são
considerados Justos entre as Nações, termo
“utilizado pelo Estado de Israel para descrever góis/gentios que arriscaram
suas vidas durante o Holocausto para salvar vidas de judeus do extermínio pelo
nazismo”. Tomamos chá, fomos dormir. Na manhã, vó curava as galinhas e patos,
ela intuiu que eu lhe faria a pergunta: “como sabemos o que é o humano? E
deixou-me fazê-la. “Não sabemos, só podemos desejar.” Tempos depois,
conversando com Rodner Lúcio ele explicou-me: “Uma coisa é certa, se a brutalidade,
a agressividade a mesquinhez é própria do homem, a solidariedade é do humano.
Produzimos holocaustos, mas produzimos Luiz Martins e Aracy Guimarães, que estão mais próximos do
que pensamos e desejamos ser o humano. Na outra ponta o que existe é barbárie”.
Vô trouxe batatas e milho do campo, tia armou fogueira. É noite de São João:
Voz que grita no deserto.
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