quarta-feira, maio 11, 2016


HUMANO

Para Elvis Almeida



Vô nos explicava que cada semente lançada ao solo era uma possibilidade de vingar ou não, mas, vingando, não seria outra coisa a não ser o que esperávamos que ela fosse. “De tomate não nasce abóbora”, resumia vó. O ser humano, retomava vô, é uma incógnita, um mistério, dele podemos apenas alentar um modelo a que estamos sempre aquém. “Plantando abóbora é capaz que surja pepino”, ironizou vó. Tia contou-nos então, a História de Luiz Martins de Souza Dantas e Aracy Guimarães Rosa, brasileiros que viveram os tempos sombrios de holocausto e contra todas as restrições burocráticas ajudaram inúmeros judeus a deixarem a Alemanha nazista. Eles não figuram em nossos livros de história, mas são considerados Justos entre as Nações, termo “utilizado pelo Estado de Israel para descrever góis/gentios que arriscaram suas vidas durante o Holocausto para salvar vidas de judeus do extermínio pelo nazismo”. Tomamos chá, fomos dormir. Na manhã, vó curava as galinhas e patos, ela intuiu que eu lhe faria a pergunta: “como sabemos o que é o humano? E deixou-me fazê-la. “Não sabemos, só podemos desejar.” Tempos depois, conversando com Rodner Lúcio ele explicou-me: “Uma coisa é certa, se a brutalidade, a agressividade a mesquinhez é própria do homem, a solidariedade é do humano. Produzimos holocaustos, mas produzimos Luiz Martins e  Aracy Guimarães, que estão mais próximos do que pensamos e desejamos ser o humano. Na outra ponta o que existe é barbárie”. Vô trouxe batatas e milho do campo, tia armou fogueira. É noite de São João: Voz que grita no deserto.


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