segunda-feira, maio 23, 2016

A PESSOA HUMANA SER CULTURAL




“O aceso universal à Cultura não pode deixar de fazer parte das prioridades do poder público”



                 A pessoa humana é naturalmente cultural e a cultura é a sua forma de vida; o modo pelo qual ela se situa no mundo, interage com o mundo e produz e significa o mundo. Assim, a cultura exerce papel fundamental na vida humana. Sua tarefa principal  é construir um sentido para o existir humano, um modelo de humanidade que seja adequado à dignidade e à exigência da pessoa humana

                 Por ser uma construção coletiva, ela se estabelece mediante a inter-relação Eu-tu, no fazer e refazer o mundo. É mediante a inter-relação discurso-ação que o humano interage com seus pares e vai dominando a realidade, criando e recriando este mundo, acrescentando-lhe algo de seu, acrescentando-se a ele, humanizando-o, humanizando-se. Nos Dizeres de Hannah Arendt (A condição Humana): “É com palavras e atos que nos inserimos no mundo humano; e esta inserção é como um segundo nascimento”. E no exercício deste novo nascimento, o homem pensa, avalia, dá sentido, cria valores, escolhe e justifica suas opções, organiza sua vida e de seu grupo: Forja a si um rosto. Tais procedimentos constituem um complexo e rico mundo de símbolos, ideias e cosmovisões. Assim, segundo Leslie A White, toda cultura depende do símbolo. É a “faculdade de simbolização que cria a cultura e o uso de símbolos que torna possível sua perpetuação. Sem o símbolo não haveria cultura, e o homem seria apenas animal, não um ser humano” (in, Fernando H Cardoso, Homem e Sociedade). Para Lévi-Strauss as relações humanas não são possíveis senão em função de um sistema simbólico, pois “a vida social só pode emergir a partir do pensamento simbólico”.  Através da cultura, então, o ser humano destaca-se do mundo natural, cria um mundo próprio, determinando-se culturalmente.

                 Enquanto caráter identificador de uma determinada sociedade, a cultura se expressa nos modos de viver e pensar desta determinada sociedade, e designa o patrimônio social dos grupos humanos radicados historicamente nesta sociedade. A cultura compreende, então, os conhecimentos, crenças, valores, ideologias, modos de produzir e criar produtos e símbolos que caracterizam tal sociedade. De tal modo, o universo cultural de uma comunidade humana particular é um sistema oniabrangente que compreende a língua que se aprende, a maneira de se alimentar, o jeito de sentar, andar, correr, brincar, o tom da voz nas conversas, as relações familiares, a emoção, etc. Tudo isto existe no comportamento modelado em sociedade e possibilita o estabelecimento das regras de conduta e dos valores que nortearão a construção da vida social, econômica e política de tal comunidade.

                 Assim, cabe a cada sociedade projetar o modelo de pessoa que se plasma. O projeto cultural de um povo, ou seja, as prioridades, os valores, o modelo de pessoa, delineiam o caráter e a identidade da própria sociedade. O problema da cultura, portanto, não é um problema apenas do Estado, é um problema de toda a sociedade. É a sociedade que deve ditar-lhe os rumos. O Estado e sua organização é uma construção humana, portanto, é também um bem cultural. Porém, o Estado, enquanto expressão da sociedade, e a serviço da sociedade, não pode eximir-se de suas atribuições. Cabe ao Estado, a serviço da sociedade, incentivar a produção cultural, criando espaços para a criação, produção e circulação de bens e serviços culturais; preservando e resgatando patrimônios e documentos históricos; fomentando iniciativas artísticas, formativas, e de pesquisa que evidenciem as características próprias de uma coletividade; facilitando o acesso universal às produções e manifestações culturais, incrementando e preservando manifestações culturais próprias de seu povo, etc.

Ao defendermos, então, o direito universal à cultura, estamos reclamando ao Estado o reconhecer a cada pessoa o direito a fazer parte da comunidade humana, inserida numa história, numa sociedade, numa cultura própria, buscando relacionar o sistema de representação simbólica de seu grupo às exigências de um modelo social que ressalte e promova sua dignidade de pessoa humana.

Se reduzirmos, pois, o papel do Ministério da Cultura às lei de incentivo, em especial à Rouanet, ele não tem mesmo razão de ser. Num âmbito mais amplo, o debate entorno da extinção ou não do MINC revela apenas a obtusidade do atual desgoverno e dos que o aplaudem.  Na verdade, nutrir qualquer expectativa de uma IMPOSTURA, revela o quanto distante estamos de uma CULTURA democrática e humanizadora.

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