Eu
conheci Francisco de Assis e Karl Marx no mesmo dia. Era em uma época em que a
Igreja Católica tinha uma ala progressista e optava pelos pobres. Mantive-me
sempre mais franciscano que marxista, e continuo achando que a revolução deve
se dar com os destituídos contra os opulentos. A luta de classes é apenas um
recorte dentro deste cenário em que uns não tem o mínimo e outros não se
contentam em esbanjar. A luta de classes é uma luta em que uns lutam para não
se tornarem pobres e os oponentes para serem aceitos no mundo do esbanjamento e
da opulência. Nunca me envolvi de pleno
na ação política. Durante um bom tempo arrisquei o caminho da vida religiosa.
Hoje mantenho apenas algo de Dom Helder Câmara: "não sou nem capitalista,
nem comunista: Sou Cristão". O Cristo que sigo não se encontra nem na
doutrina católica, nem na doutrina evangélica, das quais ele foge como o diabo
foge da cruz. O Cristo que eu admiro não prega ao pobres se faz pobre, nasce e
morre como delinquente: perseguido e despossuído. É o caído no caminho, caído
porque saqueado, derrubado, abandonado, ignorado, como todo pobre de todos os
tempos. É o Cristo sutil e irônico com o jovem rico. Fosse deselegante diria: “queres
fazer parte comigo; vai devolve tudo o que roubaste até hoje dos pobres, porque
tua riqueza é fruto da exploração, da expropriação do outro...” Não, este
Cristo não existe, eu sei, faz parte de meus delírios... Mas a riqueza espúria
de uns e a pobreza criminosa de tantos e tantos eu a vejo a todo instante. O
comunismo não dá conta da revolução que eu sempre desejei. A revolução que eu
sempre almejei não tem nome, apresenta-se numa imagem: a do pobre Lázaro no
seio de Abraão (Lucas
16:19-31). Eu sempre tive que o seio de Abrão é uma realidade futura,
mas não transcendente. Ela se dará quando todos os excluídos, e não uma classe,
se levantarem contra os poucos privilegiados de qualquer sistema: econômico,
político, religioso... Quando Golias derrubar Davi.
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