sexta-feira, maio 20, 2016

FRANCISCO MARX E LÁZARO


Eu conheci Francisco de Assis e Karl Marx no mesmo dia. Era em uma época em que a Igreja Católica tinha uma ala progressista e optava pelos pobres. Mantive-me sempre mais franciscano que marxista, e continuo achando que a revolução deve se dar com os destituídos contra os opulentos. A luta de classes é apenas um recorte dentro deste cenário em que uns não tem o mínimo e outros não se contentam em esbanjar. A luta de classes é uma luta em que uns lutam para não se tornarem pobres e os oponentes para serem aceitos no mundo do esbanjamento e da opulência.   Nunca me envolvi de pleno na ação política. Durante um bom tempo arrisquei o caminho da vida religiosa. Hoje mantenho apenas algo de Dom Helder Câmara: "não sou nem capitalista, nem comunista: Sou Cristão". O Cristo que sigo não se encontra nem na doutrina católica, nem na doutrina evangélica, das quais ele foge como o diabo foge da cruz. O Cristo que eu admiro não prega ao pobres se faz pobre, nasce e morre como delinquente: perseguido e despossuído. É o caído no caminho, caído porque saqueado, derrubado, abandonado, ignorado, como todo pobre de todos os tempos. É o Cristo sutil e irônico com o jovem rico. Fosse deselegante diria: “queres fazer parte comigo; vai devolve tudo o que roubaste até hoje dos pobres, porque tua riqueza é fruto da exploração, da expropriação do outro...” Não, este Cristo não existe, eu sei, faz parte de meus delírios... Mas a riqueza espúria de uns e a pobreza criminosa de tantos e tantos eu a vejo a todo instante. O comunismo não dá conta da revolução que eu sempre desejei. A revolução que eu sempre almejei não tem nome, apresenta-se numa imagem: a do pobre Lázaro no seio de Abraão (Lucas 16:19-31). Eu sempre tive que o seio de Abrão é uma realidade futura, mas não transcendente. Ela se dará quando todos os excluídos, e não uma classe, se levantarem contra os poucos privilegiados de qualquer sistema: econômico, político, religioso... Quando Golias derrubar Davi.

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