terça-feira, novembro 24, 2020

KU ZAO

Subíamos a Mesquita Figueira. Já perto de casa, paramos num bar para um cerveja. Um sujeito entrou na nossa cola, nos mediu com olhar rude. Pediu uma “quente” e uma cerveja. Nós nos instalamos numa mesa ao canto. Numa próxima, de frente, ele nos encarava. Achei melhor pagarmos a conta. “Gui”, disse: “o clima não é dos melhores”. O tipo mal encarado levantou de imediato: “o que você disse ai?”. “Disse nada não, senhor!” respondi com receio. “Não, não! Eu ouvi bem! Você falou de mim!” “Estava falando comigo”, disse Gui com rispidez, “e não é da sua conta.” “Olha aqui vadias, aqui é um lugar de família, de gente de bem”. “Moço”, disse Gui, “nós notamos, por isso, já estamos indo!” “Moço não, Desembargador! Preto, vagabundo e bicha, eu mando é prender!” “Cidadão de bem; homofóbico; machista e racista, para um combo completo só falta ser bolsonarista”, disse Gui. “Vou descer a porrada, vou descer a porrada!” “Ku Zao”, gritou alguém na porta do bar, “olha o Maguila!” O sujeito se encolheu todo, chegou a mijar nas calças ao ouvir “Olha o Maguila!” “Maguila”, explicou-nos a senhora que gritara da porta do bar, “havia dado uma sova neste tipo, semanas antes.” “Todo Ku Zao, vez ou outra, precisava cruzar com um Maguila”, concluiu Gui. “Eles se cagam, mas não se emendam”, retorquiu a senhora que nos pagou a conta.

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