domingo, novembro 22, 2020

CONTRA O RACISMO A RADICALIDADE

 "O escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata sempre em legítima defesa" - Luiz Gama

 

Por que uma vidraça tem mais valor que um corpo preto?

 

Porque desde que aqui chegou, arrancado de sua terra e transportado como coisa, o africano foi recebido a chicotada e marcado a ferro em brasa. Coisa entre coisa foi tratado. Sangrado, chicoteado, extenuado de sua força trabalho e de sua vida, foi ensinado que a propriedade roubada aos nativos tinha mais valor que sua vida roubada em África. Propriedades roubadas tem mais valor que nós, corpos-coisas. Nos ensinaram que somos corpos de menos preço que vidraças. Nos ensinaram que vidraças são propriedade e propriedade é valor  insofismável. De corpos se desfazem, de propriedades não. Desde cedo, aprendemos que propriedades valem mais que vidas. É um direito inalienável. Corpos negros são descartáveis. Desde Cabral a Bolsonaro, houve e há uma sistemática defesa da propriedade, mesmo que roubada, e desqualificação da vida, principalmente em pele preta. O que nos esconderam é que as vidraças escondem a riqueza que é fruto de roubo de propriedades e de vidas, que em toda vidraça protegida se reflete o rosto de populações nativas desapropriadas de suas terras, exterminado por doenças trazidas do outro lado do Atlântico, principalmente a ganância, não nos ensinam nas escolas que as vidraças que tanto protegemos refletem o rosto negro sangrado extenuado, sem vida, assassinado a chicote em nome da propriedade roubada. Não nos dizem que toda riqueza é fruto do roubo de terras indígenas e de vidas negras. Eles preferem falar de mérito. É o sangue nativo e o sangue africano que sustentam as vidraças. Isto nos escondem na escola, nos jornais, nas novelas. Sistemáticamente nos ensinam a amar a propriedade e a riqueza e a matar “corpos-coisas”, vidas negras.  Está na hora de impor outro ensino: vidas pretas importam, vidas nativas importam. Está na hora de derrubar toda vidraça erguida com o sangue de nativos e africanos.  Está na hora de impor contra o racismo a radicalidade. E como é muito lembrado numa frase do Malcolm X: derrubar vidraças não é violência é resistência, é resiliência, isto é, recuperar a dignidade que nos é roubada.

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