"O escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata sempre em legítima defesa" - Luiz Gama
Por
que uma vidraça tem mais valor que um corpo preto?
Porque
desde que aqui chegou, arrancado de sua terra e transportado como coisa, o
africano foi recebido a chicotada e marcado a ferro em brasa. Coisa entre coisa
foi tratado. Sangrado, chicoteado, extenuado de sua força trabalho e de sua
vida, foi ensinado que a propriedade roubada aos nativos tinha mais valor que
sua vida roubada em África. Propriedades roubadas tem mais valor que nós,
corpos-coisas. Nos ensinaram que somos corpos de menos preço que vidraças. Nos
ensinaram que vidraças são propriedade e propriedade é valor insofismável. De corpos se desfazem, de
propriedades não. Desde cedo, aprendemos que propriedades valem mais que vidas.
É um direito inalienável. Corpos negros são descartáveis. Desde Cabral a
Bolsonaro, houve e há uma sistemática defesa da propriedade, mesmo que roubada,
e desqualificação da vida, principalmente em pele preta. O que nos esconderam é
que as vidraças escondem a riqueza que é fruto de roubo de propriedades e de
vidas, que em toda vidraça protegida se reflete o rosto de populações nativas
desapropriadas de suas terras, exterminado por doenças trazidas do outro lado
do Atlântico, principalmente a ganância, não nos ensinam nas escolas que as
vidraças que tanto protegemos refletem o rosto negro sangrado extenuado, sem
vida, assassinado a chicote em nome da propriedade roubada. Não nos dizem que toda
riqueza é fruto do roubo de terras indígenas e de vidas negras. Eles preferem
falar de mérito. É o sangue nativo e o sangue africano que sustentam as
vidraças. Isto nos escondem na escola, nos jornais, nas novelas. Sistemáticamente
nos ensinam a amar a propriedade e a riqueza e a matar “corpos-coisas”, vidas
negras. Está na hora de impor outro ensino:
vidas pretas importam, vidas nativas importam. Está na hora de derrubar toda
vidraça erguida com o sangue de nativos e africanos. Está na hora de impor contra o racismo a
radicalidade. E como é muito lembrado numa frase do Malcolm X: derrubar
vidraças não é violência é resistência, é resiliência, isto é, recuperar a
dignidade que nos é roubada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário