O que segue é machista!
Tem menos de quinze anos que venho me
reeducando sob o como me relacionar com as pessoas, principalmente com as
mulheres. Confesso não é uma tarefa fácil. Sou de um tempo em que não cabiam ao
homem: 1) levar desaforo pra casa; 2) levar tapa na cara; 3) chorar; 4) não
pegar uma mina de bobeira. Um tio ensinava que: “bonita, feia, pobre, rica, não
importa, fez sombra: traça”. Na escola, nos quintais, na rua tinham aqueles
jogos propícios: passa-anel; beijo - abraço - aperto de mão; mãe da mula,
pique-esconde. No recreio, na fila da merenda, para entrar pra sala, quando a
professora se ausentava, pintou oportunidade, éramos abusivos, levantávamos
suas saias, as encoxavamos, as bolinávamos. Em ônibus e trens, não era
diferente. Aprendi desde cedo que a mulher é responsável pelo que lhe acontece.
“Aquele meu tio contava uma piada, de uma jovem que morrera virgem, chegando ao
céu, São Pedro não a recebeu. Indagando o motivo, o velho Pedro esclareceu:
“fizeste sexo com o coveiro!” No modo e com os termos que meu tio conta, a
piada tem graça. Mas ela nos ensina que mesmo morta, a mulher é responsável
pelo que lhe acontece. No mundo em que eu cresci e fui educado, a mulher não é
vitima ela é causa. “Foi por causa daquela sirigaita que Afrânio perdeu o
tino”, explicava uma tia o primo ter engravidado a prima com déficit
intelectual. “Aquela é sonsa só pra trabalhar”, dizia outra tia. Uma nossa
vizinha, vitima do alcoolismo do marido: “ele é assim só quando bebe!”. Difícil
era saber quando o sujeito não bebia. Esta minha vizinha dizia: “O homem tudo
pode, a mulher aquieta”, explicando porque não o denunciou quando ele avançou
sobre a filha. Foi neste mundo que eu nasci, que eu cresci, que eu vivo. Como
eu disse, tem pouco menos de quinze anos que eu venho me reeducando. Esta
reeducação só tem sido possível graças a algumas mulheres que cito: Ione Viana
de Souza, Lidiane Santos Rodrigues, Luciene De Azevedo, Zulene Souza, Tina
Fernandes, Shirlei Fernandes, Thaís Fernandes, Patty Nascimento, Patrícia
Opereta, Wal Serra, Heline Albano, Aline Vieira, Dorivania Chagas, Dora Nunes, Neide
Xavier de Souza, Fatima Senna, Simone Lucio, Tais Gonçalves de Morais, Selma
Amorim Maida, Cris Dom, Camila Viana de Sousa...
Graças a estas mulheres eu posso
dizer que: "Não sendo só macho, vou sendo homem com H. Este H não é de
qualquer coisa superior, mas de humano, humanizando-se, perdendo a couraça, a empáfia
do escroto, deixando de ser o que "tudo pode" para ser, com o outro a
outra, o que juntos, lado a lado, parceiros, somos: Um só coração, uma só
mente, um mesmo sonho. A distância não nos separa, as controvérsias não nos
desune. Que neste processo de me des-tornar macho para tornar-me homem com
vocês eu não as desaponte.
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