segunda-feira, novembro 16, 2020

A CULPA NÃO É DO POBRE

 

“A educação não pode tudo” Paulo Freire

As insanidades que seguem estão circunscritas à cidade de Poá.

Passada a apuração, desperta a pergunta julgamento: “porque o pobre vende seu?”. A pergunta é julgamento porque nós não queremos entender a visão de mundo do pobre, seus anseios, suas expectativas, suas escolhas, mas encontrar um bode expiatório a nosso fracasso nas urnas. A esta pergunta descabida eu me pergunto: Quem é o pobre de que falamos? Um sujeito abstrato, uma categoria sociológica. Dos pobres concretos, parece-me, pouco ou nada sabemos, porque não os ouvimos. Para nós, os “educados” (ao pobre falta educação, li em mais de uma postagem isso hoje), os que “sabem” é suficiente ir aos pobres e “educa-los”, falar a eles o como será as coisas para eles, sem os levar em conta, sem os ouvir dizer como eles gostariam que as coisas fossem do ponto de vista deles. Dizer que tal resultado das urnas é porque “o pobre se vende”, nos destaca deles, é dizer: “nós “que sabemos votar” não somos pobres!” Esta distinção descabida “eu, o iluminado, votei certo, meu vizinho, esse analfabeto político, vendeu o voto”, só ilustra o quanto sou arrogante em minha ignorância! A análise que joga aos pobres a “culpa” de nosso fracasso político é rasteira. Ao invés de condenar o pobre com essa pergunta descabida: “por que o pobre vende seu voto?”, deveríamos nos perguntar: Por que não atingimos o pobre? Este atingir não é no sentido de nos fazer compreendidos por eles (alguém disse que não sabemos nos comunicar com os pobres), ao contrario, é no sentido de não os compreender (esta é minha tese: nós muito julgamos, mas pouco conhecemos os pobres (olha eu me colocando numa posição de não pobre)). Por que, mesmo combatendo a classe média, é dela que nos vem os poucos votos que conquistamos? Não, o problema não é de educação, não do pobre. Educar o pobre para votar em nossa posição política não seria educação. O problema é de ignorância nossa. Nós falamos do pobre sem o conhecer, e falamos negativamente. Nós julgamos saber o que eles desejam e ditamos a eles o que julgamos ser seus anseios. Se o resultado das urnas é responsabilidade (não culpa) dos pobres, vamos analisar tal resultado e tentar compreender o que os pobres estão querendo. Mas algo mais profundo precisa ser feito: instalar-se entre os pobres não para dizer-lhes, para ouvi-los e se deixar educar por eles. Sem tal engajamento, nossa proposta política não é para os pobres. Talvez eles já tenham entendido isso. É com os pobres e não para os pobres que havemos de nos articular...

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