segunda-feira, novembro 02, 2020

CONJECTURAÇÕES POLÍTICAS*

 “Todo homem que atinge consciência plena, afirmamos, deseja a liberdade política.” Karl Jaspers.

 

Segundo Karl Jaspers, a política é o mais importante dos instrumentos no que diz respeito à nossa coexistência no mundo. Ela se situa na tensão entre o uso da violência e a parlamentação, o confronto de ideias e ações em torno do bem comum.

Manter-se no poder pela violência exige a vilania e a mentira. Manter-se no poder pelo convencimento dos argumentos requer disposição ao confronto de ideias e ações comprometendo-se com a liberdade dos opositores e com a educação de seus concidadãos ao pensamento livre e critico. A política da violência controla massas, a política da liberdade eleva a si e seu povo em dignidade e respeito diante das nações.

Só a liberdade política, a capacidade de confrontar ideias e ações pode fazer de um povo uma nação e de seus indivíduos homens e mulheres autênticos.

A violência, seu uso político, produz a tirania e um governo de escravos. E a razão da política não é produzir súditos e promover cidadãos, homens e mulheres livres e capazes de participar das decisões de uma nação. “A razão da política é a liberdade” (Hannah Arendt).

Nas palavras de Jaspers: “A política pretende subjugar a violência por meio do debate, do pacto, da busca de uma vontade comum através de caminhos legais. Para que a tal resultado se chegue, é preciso contar com certa espécie de político. Esse político não deve aspirar à ditadura, porque não se interessa por governar escravos.”

Assim, para Jaspers, a política, em seu afirmar a liberdade, “deve pretender poder temporário, na medida em que mereça a confiança do povo – confiança de cidadãos e não de súditos – e deve inclinar-se pela renuncia, tão logo decaia daquela confiança.”  O político, na concepção de Jaspers, deve odiar a força e ser educador do povo.

Sem educação não há cidadão, a ignorância gera servos, súditos, escravos. Para a parlamentação, para o confronto de ideias e ações em vista da coexistência e do bem comum, é preciso que a nação seja educada. Sem educação para a liberdade , a política governa homens e mulheres, mas não institui uma nação soberana, respeitada diante de outras nações.

Um governo que despreza o conhecimento, desvaloriza a ciência e o ensino, desvaloriza professores, escolas, pesquisas, condena seu povo. Um povo que despreza o conhecimento submete-se a qualquer impostor que lhe ofereça aparente segurança, aparente garantia de sucesso em seus negócios particulares.

Não se produz e governa uma nação com bravatas e com polícia, mas com o fortalecimento intelectual de seus concidadãos. Uma nação é soberana se educada para viver a responsabilidade que a liberdade lhe exige.

Sem leis não há ordem, sem livros não há liberdade. Onde reina a ignorância, reina o desmando e a truculência. Não há lei que ordene a ignorância. A lei só se sustenta ante homens educados e mulheres  educadas e livres. A verdadeira liberdade não consiste em fazer o que se quer, a verdadeira liberdade consiste em decidir viver ou não em comunidade assumindo o desafio da coexistência e da liberdade política.

Não atingimos a consciência plena se não formos educados para ela. Daí que política e educação não se separam. (Conclusão nossa).

 

*A partir de: Karl Jaspers. Introdução ao pensamento Filosófico. São Paulo: Cutrix. 1973

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