segunda-feira, junho 06, 2016

Padre Leontino



Eu já não acredito em Deus, mas não perdi o habito de rezar (Eudócio Zannetti)

Arremessávamos pedras numa garrafa de vidro. Bento, antes de cada arremesso, se benzia com três sinais da cruz. Zannetti cuspia de lado. Eu mirava a garrafa estendendo o braço em sua direção e apontando-lhe a pedra bem firme na mão, retraia o braço com um leve movimento para a direita e arremessava a pedra.
Padre Leontino rezava o terço, caminhando de um lado para o outro. O aroma de feijão com toucinho de Suora Augusta começava a tomar conta de nossos estômagos. Não acertamos nem de raspão uma só pedra na garrafa.
 Padre Leontino, terminado seu terço, agachou-se, tomou uma pedra, mirou de onde estava a garrafa e arremessou a pedra. Ouvimos o som da garrafa se espedaçando ao impacto da pedra. Ficamos abismados com a façanha de Padre Leontino.
Foi o comentário entre nós e os outros meninos durante a janta.  Antes de dormirmos Padre Leontino, após o Pai Nosso, leu-nos a fábula O burro em pele de leão, de Tolstói: “Um burro vestiu a pele de um leão e todos acharam que era mesmo um leão. As pessoas e os animais correram. Bateu um vento, a pele caiu e deu para ver que era um burro. As pessoas vieram correndo: deram uma surra no burro.”

Antes de apagar os candeeiros Padre Leontino, como de costume, nos recomendou: “não esqueçam de pedir coisas justas a Deus e desejarem ser sempre justos.”  “Bem que podia bater um vento em Brasília”, pedi a Deus...    

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