sábado, junho 25, 2016

NO MEU TEMPO


Quando eu era criança, meu avô dizia que eu não sabia brincar, porque morava na cidade e na cidade: "não se ordenhava, não se caçava, não se pescava." Na minha rua, uma das maiores diversões dos mais velhos, era amarrar o "mudinho" no poste com as calças arriadas só para ouvi-lo gritar com dificuldade socorro e alguns palavrões. O “mudinho” sobreviveu, mas será que ele tem saudade de sua infância?  Como nossos filhos vão brincar com piões, bolinhas de gude, revolveres de mamona, se não lhes apresentamos esses objetos? Como vão brincar na rua, se somos nós que os trancamos, "por segurança", em nossos apartamentos e condomínios, com suas regras que tudo proíbem? Em nossas casas sem quintais, em nossas ruas cobertas de asfalto (meus filhos não sabem o que é barro, onde moramos é tudo asfalto e cimento) não se pode correr, não se pode gritar, não se pode subir nas árvores. Na minha infância, que não foi longa, aos dez anos eu já trabalhava, íamos a escola em grupos, a pé, o que nos permitia "arruaças". Hoje uma van pega e deixa o meu filho na porta de casa. Depois, tínhamos muito tempo livre, podíamos brincar. Nossos filhos, além da escola, têm o balet, o inglês, a natação... Estamos sempre ocupando-lhes o tempo. No meu tempo a água chegava em baldes que as mulheres de minha casa (é, buscar água no posso era um papel feminino) iam buscar no açude... Eu sobrevivi a uma infância de brincadeiras, estudo precário e trabalho. Maravilho-me com meu filho de  5 anos dominando um TABLET, enquanto eu mal consigo esquentar o almoço no micro ondas. No meu tempo se cozinhava à lenha, embora já existisse fogão. Minha avó não era dada a modernidades... Não podemos impor a nossos filhos nossas saudades, devemos no entanto propiciar-lhes situações que lhes sejam memoráveis. Que tal ir empinar pipa com o teu filho? Vá curtir com ele tua saudade de forma prática... 






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