terça-feira, junho 21, 2016

PROMETEU ACORRENTADO



Graças a mim, os homens não mais desejam a morte... Dei-lhes uma esperança infinita no futuro. (Prometeu)
Quem conhece seu limite não teme seu destino. (Aristóteles)

Prometeu, por ter roubado o fogo a Zeus e o ter doado aos homens, foi aprisionado por Zeus a um rochedo. Não bastasse, Zeus enviou uma águia para lhe comer o fígado, que voltava a regenerar todas as noites. Prometeu foi liberado de seu martírio ao revelar a Zeus o nascimento de Aquiles, filho do Deus com Tertis.
Segundo um texto breve de Kafka, sobre Prometeu há quatro legendas. A primeira que ele traiu os homens em favor dos homens; a segunda que Prometeu tenha se fundido à montanha, tornando-se com ela uma coisa só; a terceira que com o correr dos tempos sua traição foi esquecida. “Todos esqueceram: os deuses, as águias, ele mesmo”; a quarta que se cansaram dele. “Os deuses se cansaram, a ferida – cansada – se fechou".
Muitas interpretações acerca do fatídico castigo imposto por Zeus a Prometeu consideram que o rigor de Zeus se deveu a Prometeu ter concedido aos homens o fogo, isto é, os ter ensinado a não depender dos Deuses. Além do fogo, símbolo da técnica, Prometeu teria dado aos homens também a linguagem, isto é, a capacidade de dar sentido a seu existir.
Para Umberto Garimberti, o que levou Zeus a condenar Prometeu foi o Titã ter enganado os homens prometendo-lhes tornarem-se imortais.
A meu ver, em Prometeu Acorrentado está representa a impotência das vontades – quer dos homens, quer dos deuses – ante a onipotência do destino. Assim o expõe o próprio Prometeu: "Não!... Não foi assim que dispôs o destino inexorável... A inteligência nada pode contra a fatalidade", respondendo ao coro, quando este observa: "Depois de haver prestado tamanhos benefícios aos mortais não te abandones à desgraça. Estamos persuadidas de que poderias, liberto dessas cadeias, ser tão poderoso quanto Júpiter."
O otimismo do coro ante Prometeu é uma quimera, uma esperança que esvanece na voz resignada do Titã. Kant foi o último esforço prometeico de nossa aventura humana. Sua esperança de que o homem se constituísse fim de si mesmo encerra o otimismo cedido ao homem: o de um ser livre e autônomo.

Sob a égide do tecnicismo econômico que a tudo torna mercadoria, somos não apenas mortais, nos tornamos tão consumíveis e descartáveis quanto qualquer outra mercadoria. Não sei se era intenção de Prometeu, mas com seu ensino deixamos de ser mortais: nós já não morremos, nós nos consumimos... O futuro já não é mais uma esperança, mas uma concreta ameaça.

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