[...]
Eu estou muito cansado de não poder
De não poder falar palavra
Sobre essas coisas sem jeito
Que eu trago em meu peito
[...]
Belchior
O olhar lançado ao infinito nada,
buscando-se em si. Um anseio, um alento, um mínimo desejo, um lampejo pulsa.
Uma lembrança anódina.
Chove!
É o que lhe vem à mente.
Vozes
abafadas, corpos trêmulos, olhares espreitando, ouvidos individuando rumores
rondando a casa. Não fosse... Não ousava pensar... O pulsar dos corações, o seu
ao da mãe que o apertava ao peito e ciciava em seus ouvidos: “Não chore! Meu
bem, não chore!”...
Entre
insônia, sonho-delírio, sente apenas o pulsar de um não-ele nele e o cheiro
nauseante de pólvora...
Nunca
lhe contaram como se deu as coisas de fato. Era pra se esquecer. “Não tinha que
se preocupar, era um milagre...”
Sabia que aqueles não eram seus pais naturais
e que eles evitavam o tema...
“Não
chore, meu bem, não chore!”...
Embora
lá fora a noite transite para o dia com promessa de sol, sente-a profunda,
úmida, fria... E no apartamento, oitavo andar, abre a vidraça e grita grita
grita... O olhar preso a uma estrela
distante.
Em
si rumores surdos, vozes abafadas, choro de criança... o nauseante ar
empesteado de chumbo... Nunca lhe contaram como as coisas se deram de fato...
“era um milagre”, diziam-lhe.
E
do apartamento, braços abertos ganhando ganhando ganhando o espaço, despencando despencando despencaaaandoooo, assomando-se
assomando-se ao asfalto ...
“Não
chore! meu bem, não chore...” “Era um
milagre”, diziam-lhe. "Todo milagre é um nada infinito, um
anódino...", dizia-se ...
♪♫
Quem me conhece me pede que seja mais alegre.../ Mas é que nada acontece que
alegre meu coração.♪♫♪
Nenhum comentário:
Postar um comentário