Nenhum homem se chegará a qualquer parenta da sua carne, para descobrir a sua nudez. Eu sou o Senhor. (Levítico 18,6)
As coisas que narro acontecem em
Grotões do Fundo, subdistrito de Pau D’Alho. Poderiam, naturalmente, ocorrer no
Morumbi, ou na Zona Sul carioca...
Feliciannus Malafalsa levantou-se
no meio da noite. Foi à sala, de passagem pegou cerveja na geladeira. Ligou a
televisão, deixou-a num volume que se pudesse ouvir em seu quarto. Dirigiu-se
ao quarto da filha, que dorme e sonha com a festa de aniversário se
aproximando. Deitou-se ao seu lado...
Durante
as refeições matinais, depois que Feliciannus orou pela família e pelo
alimento, a esposa comentou, como de costume, olhando para a filha: “porque
você tem que ligar a televisão naquele volume? Eu quase não consigo dormir.” Um
silêncio obsequioso sufocou o ambiente.
Ouviu-se
buzinas. Era a Tia da van... Quando a menina partiu, a esposa comentou: “tem
algo estranho com essa menina, me parece triste, a professora comentou que ela
é muito quieta e isolada, recomendou acompanhamento...”
Feliciannus,
fez não prestar atenção, lia o jornal: “onde vamos parar, com dez anos e já
anda armado! Onde vamos parar?”, comentou, despistando.
Deixou
o jornal, ligou para o vereador a quem assessora: “Bom dia nobre vereador! O nobre
edil leu o Matinal de hoje? Pois é, o nobre edil tem que pautar a questão da
criminalidade, tem que combater esse absurdo, onde já se viu um menino de dez
anos trocando tiro com a polícia? Não, não pode! Tem que criminalizar! Tem que
prender! Bandido bom é bandido morto...!”
Do
outro lado o nobre vereador apenas assentia: “Tá certo pastor...! O senhor tem
razão pastor...! Não, não pode pastor!”
Depois
de instruir “seu vereador”, como gostava de dizer, beijou a esposa, tomou o
paletó, saiu. Passou na escola da filha e formulou uma queixa contra a
professora, pediu providencias da diretora, caso contrário: “ela sabia de quem
dependia seu cargo...”
Passou
o dia tratando de seus negócios, negociou com um “gerente” do morro um novo
ponto de “evangelização”, negociou com representantes do governo subsídios para
seu “evento de combate à cristofobia”...
No
inicio da noite, Feliciannus assumiu a palavra de Deus diante dos fieis:
“Queridos, isso é uma vergonha, é uma estupidez, quem defende os direitos
humanos é contra a palavra de Deus... “Queridos, uma vergonha! ... Que Deus
tenha misericórdia de nossas famílias!”
Feliciannus
Malafalsa levantou-se no meio da noite. Ligou a televisão...
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