Tenham o cuidado de não
praticar suas ‘obras de justiça’ diante dos outros para serem vistos por eles.
Se fizerem isso, vocês não terão nenhuma recompensa do Pai celestial. (Mateus
6, 1)
Christine
Ramos poda as rosas e, enquanto prepara
novos enxertos, me explica: “ao enxertar rosas, as mudas devem ser escolhidas
por suas flores, e o porta-enxerto, por suas raízes resistentes e saudáveis...,
não é difícil, requer paciência e delicadeza.”
Enquanto,
eu recolhia os ramos e as folhas descartadas, tratávamos de assuntos diversos,
como de um fragmento de um poema de Adélia Prado (a rosa mística). O fragmento
era: “... Entendi que as palavras/ daquele modo agrupadas/ dispensavam as
coisas sobre as quais versavam,/ meu próprio pai voltava, indestrutível...”
Depois,
já sentados à sombra de uma mangueira, Christine Ramos, falou-me de Francisco
de Assis, e contou-me um de seus “Fioretti”: “Certo dia, Francisco convidou
seus confrades para irem à cidade evangelizar, e saiu com os frades a caminhar
pela cidade. Quando tornavam a San Damiano, um dos frades o interroga: “Mas nós
não devíamos evangelizar?” “É o que fizemos!”, respondeu Francisco.
“Francisco,
na sua convicção”, explicava-me Christine, “de ser como Cristo, acreditava que
seu modo de vida era já anuncio do Evangelho, que a atitude dispensava a
pregação”.
Eu
quis questionar, mas ela completou: “e Francisco, pensando ser como Cristo,
evitou também o titulo de mestre. Para ele, como para o Cristo, nós devemos
fazer as coisas porque achamos que devem ser feitas, não porque achamos que
devemos ensinar.”
Eu
lembrei-me do caro amigo Rodner Lúcio que costumava dizer-nos: “aquele que
ensina não é aquilo que ensina. As pessoas seguem ou rejeitam aquele que ensina
por aquilo que é não por aquilo que ensina”.
Eurípedes
dos Santos costumava rir de nós, dizia que éramos três “foris mundi!”.
À
sombra da mangueira, Christine e eu lembrávamos de nossas tardes de estudos e
de nossos passeios por antiquários de Roma e os longo passeios ao longo do
Tevere.
Terminamos
nossa tarde com um poema de Drummond: “Entre o cafezal e o sonho/ o garoto pinta
uma estrela dourada/ na parede da capela,/ e nada mais resiste à mão
pintora...”
Queríamos,
entre Palácio da Justiça e Castelo Sant’Angelo, sermos mãos do mundo...
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