quinta-feira, junho 09, 2016

MÃOS DO MUNDO




Tenham o cuidado de não praticar suas ‘obras de justiça’ diante dos outros para serem vistos por eles. Se fizerem isso, vocês não terão nenhuma recompensa do Pai celestial. (Mateus 6, 1)


Christine Ramos poda as rosas e, enquanto  prepara novos enxertos, me explica: “ao enxertar rosas, as mudas devem ser escolhidas por suas flores, e o porta-enxerto, por suas raízes resistentes e saudáveis..., não é difícil, requer paciência e delicadeza.”
Enquanto, eu recolhia os ramos e as folhas descartadas, tratávamos de assuntos diversos, como de um fragmento de um poema de Adélia Prado (a rosa mística). O fragmento era: “... Entendi que as palavras/ daquele modo agrupadas/ dispensavam as coisas sobre as quais versavam,/ meu próprio pai voltava, indestrutível...” 
Depois, já sentados à sombra de uma mangueira, Christine Ramos, falou-me de Francisco de Assis, e contou-me um de seus “Fioretti”: “Certo dia, Francisco convidou seus confrades para irem à cidade evangelizar, e saiu com os frades a caminhar pela cidade. Quando tornavam a San Damiano, um dos frades o interroga: “Mas nós não devíamos evangelizar?” “É o que fizemos!”, respondeu Francisco.
“Francisco, na sua convicção”, explicava-me Christine, “de ser como Cristo, acreditava que seu modo de vida era já anuncio do Evangelho, que a atitude dispensava a pregação”. 
Eu quis questionar, mas ela completou: “e Francisco, pensando ser como Cristo, evitou também o titulo de mestre. Para ele, como para o Cristo, nós devemos fazer as coisas porque achamos que devem ser feitas, não porque achamos que devemos ensinar.”
Eu lembrei-me do caro amigo Rodner Lúcio que costumava dizer-nos: “aquele que ensina não é aquilo que ensina. As pessoas seguem ou rejeitam aquele que ensina por aquilo que é não por aquilo que ensina”.
Eurípedes dos Santos costumava rir de nós, dizia que éramos três “foris mundi!”.
À sombra da mangueira, Christine e eu lembrávamos de nossas tardes de estudos e de nossos passeios por antiquários de Roma e os longo passeios ao longo do Tevere.
Terminamos nossa tarde com um poema de Drummond: “Entre o cafezal e o sonho/ o garoto pinta uma estrela dourada/ na parede da capela,/ e nada mais resiste à mão pintora...”
Queríamos, entre Palácio da Justiça e Castelo Sant’Angelo, sermos mãos do mundo...  

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