segunda-feira, setembro 05, 2016

SOBRE A AÇÃO DA TROPA DE CHOQUE CONTRA TRABALHADORES



O que segue não é para ser ofensivo. É fruto de indagações, tem teor especulativo,  não são afirmações conclusivas, são impressões...


A pessoa humana é algo de razão, algo de paixão, algo de psicológico, algo de biológico, é alguma coisa sentimento, emoção, sensação. Alguns dizem que é pulsão sado-masoquista, desejo do Outro, linguagem... Tenho apreço por seu sorriso, por suas lágrimas, por seu canto e por seu grito; acompanho sua dança e sua marcha, a mão que afaga e a que, punhos fechados, resiste entoando palavras de ordem. Mas dentro da farda, a pessoa desaparece. O que fica é um autômato, um “Robocop”, tal um besouro armado. Não são apenas despersonalizado, é despessoalizados. Torna-se maquina teleguiada, comandada por vontades torpes. Eu tenho amigos da força policial com quem jogo, tomo cerveja e troco abraço da paz no final da missa. É trabalhador, assalariado, expropriado, escorchado, com anseios e receios que dividimos. Mas, confesso, tenho mais receio dele, quando fardado de que de homens que nos espreitam e nos sujeitam à mira de uma arma. Do bandido não espero nada, posto que de mim ele quer tudo, até a vida; do homem dentro da farda espero, mas receio não o ter: o dever primeiro de me defender a vida e o de respeitar meus direitos. Mas minha vó já ensinava: “cachorro treinado para morder, não rola no chão com seu dono”. A farda que a tropa de choque usa é cabresto, em sua configuração de “Robocopy”, lembra-me a máquina que Kafka descreve em sua Colônia Penal.  Eu tenho apreço pela pessoa humana, sou capaz de perdoar o amigo que me apunhala, mas no soldado que lança bombas contra uma multidão, no seu direito de erguer-se contra um governo impostor, golpista, entreguista, aviltador , usurpador  de nossas duras, sacrificadas conquista, eu não consigo ver um ser de desejo, uma pulsão, algo de razão... Vejo um cão seguindo a ordem de seu dono. A mascara da vazão à qualquer fantasia, e todo uniforme é uma espécie de mascará. Enquanto máscara, a farda policial, a do “Robocopy”, em especial, evoca um poder higienista. Eu, reforço, tomo cerveja com meus amigos, os abraço ao fim da missa. Mas confesso, quando eles se fardam, eu os receio mais que ao homem que vive do crime. Aos seus olhos já não sou mais o companheiro de boteco, o "irmão em Cristo". Em sua fantasia, respaldado por sua máscara, afiguro-lhe um "lixo", "escória", "doença", do vocabulário fascista. Não obstante, por trás da carapaça há algo de pessoa, de trabalhador, de pai de família tão expropriado quanto a multidão que marcha e tem apenas a voz. Não é contra ele que luto, é, também, por ele.  

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