quarta-feira, setembro 07, 2016

A ÁGUIA E O PATO DA VEZ



Desde a primeira vez que ouvi a parábola da Águia e da Galinha, conjecturo que só quem nasce para voar pode ser engaiolado. Um frango em um ninho de águia não se tornaria águia e, arremetido ao voo, penderia ao solo. De tal modo, sempre tive que: O grande pode ser apequenado, mas o pequeno não pode ser engrandecido, o poderoso pode ser submetido, o covarde jamais governará sem o uso da força. Nossa história é uma história de subjugamento: A águia, desde a colonização dos nativos e dos primeiros navios negreiros, homens parvos dobram-nos sistematicamente, fazem nos crer serem eles os detentores do poder e os legítimos donos de nossas riquezas e de nossas vidas. A águia é o povo empoleirado, apinhado nos morros, espremidos nas lotações, em vagões de trem, metrô, os boia frias, os trabalhadores informais, o homem do campo expropriado por senadores da república, as centenas de adolescentes apinhando presídios, porque lhes subtraíram a educação, o esporte, a cultura. A mais de quinhentos anos a águia é sujeitada e domesticada por uma classe de seres rasteiros, ardilosos, mesquinhos. Eles se pensam grande, se pensam senhores, se pensam merecedores da terra e de seus frutos, pelo nome, pelo titulo, pelo cargo que carregam, por bênçãos divinas. Enchem a boca, batem no peito, empinam o nariz e destilam: mérito, mérito, mérito. Tem sempre uns  ilusionários (intitulam-se articulistas, formadores de opinião, intelectuais...) a dar-lhes suporte, uns serviçais a lamber-lhes o anel de família, a refestelar-se de suas sobras. Toda vez que o povo se agita e demonstra querer acordar de seu encantamento, esses seres se articulam, mudam as regras do jogo, colocam no poder um seu representante, um homúnculo, uma peça decorativa. É desta forma que assistimos a canalhice conduzir um pato, com ares de galo, ao poder. A águia anseia abrir asas e voar. Será capaz desta vez?

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