Desde
a primeira vez que ouvi a parábola da Águia e da Galinha, conjecturo que só
quem nasce para voar pode ser engaiolado. Um frango em um ninho de águia não se
tornaria águia e, arremetido ao voo, penderia ao solo. De tal modo, sempre tive
que: O grande pode ser apequenado, mas o pequeno não pode ser engrandecido, o
poderoso pode ser submetido, o covarde jamais governará sem o uso da força.
Nossa história é uma história de subjugamento: A águia, desde a colonização
dos nativos e dos primeiros navios negreiros, homens parvos dobram-nos
sistematicamente, fazem nos crer serem eles os detentores do poder e os
legítimos donos de nossas riquezas e de nossas vidas. A águia é o povo
empoleirado, apinhado nos morros, espremidos nas lotações, em vagões de trem,
metrô, os boia frias, os trabalhadores informais, o homem do campo expropriado
por senadores da república, as centenas de adolescentes apinhando presídios,
porque lhes subtraíram a educação, o esporte, a cultura. A mais de quinhentos
anos a águia é sujeitada e domesticada por uma classe de seres rasteiros,
ardilosos, mesquinhos. Eles se pensam grande, se pensam senhores, se pensam
merecedores da terra e de seus frutos, pelo nome, pelo titulo, pelo cargo que
carregam, por bênçãos divinas. Enchem a boca, batem no peito, empinam o nariz e
destilam: mérito, mérito, mérito. Tem sempre uns ilusionários (intitulam-se articulistas,
formadores de opinião, intelectuais...) a dar-lhes suporte, uns serviçais a
lamber-lhes o anel de família, a refestelar-se de suas sobras. Toda vez que o
povo se agita e demonstra querer acordar de seu encantamento, esses seres se
articulam, mudam as regras do jogo, colocam no poder um seu representante, um
homúnculo, uma peça decorativa. É desta forma que assistimos a canalhice conduzir
um pato, com ares de galo, ao poder. A águia anseia abrir asas e voar. Será
capaz desta vez?
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