Por indicação de uma amiga, dediquei tempo ao texto do João Pereira
Coutinho na Voz do Golpe (Folha de São Paulo), de ontem (13/09/2016). Poderia
ter ficado no titulo: “Pior que a depressão é a vergonha que existe nos
deprimidos”. A vergonha te barra, policia teu pronunciar, por recear um
julgamento moral contra ti. Eu não tenho este sentimento de vergonha por ser
deprimido, eu sinto que incomodo as pessoas. É sempre um incomodo às pessoas e
não para mim saber que o meu ponto de equilíbrio com o mundo da racionalidade
iluminista é devido a medicamentos e não por uma pulsão de mais vida. Basta
você suspirar um breve lamento que o mundo a seu redor te sobrecarrega de
florilégios do fantástico mundo do dr. Lair Ribeiro. Você se torna um
estranho, um estorvo ao mantra de autoafirmação
de desejo de vida que procuramos recitar todas as manhãs. Se eu paro de tomar
os medicamentos, sobrepõe-se-me o abatimento e o inclinar-se para corda. Então,
por ora, os tomo. Meu desejo de mais vida é comprado na farmácia. Por que devo
me envergonhar disto? Eu não provoco o meu mal-estar, ele é em mim como minha
pele, meu cabelo, meus olhos... Não tenho porque me envergonhar por algo que não
produzo. Então, para mim, pior que a depressão não é a vergonha, a não ser que
fiquemos presos a arcaicos mitos, seja adâmicos, seja edípicos. A seu respeito
há muita incompreensão clinica e muitas controvérsias neuropsiquiátricas. Numa
sociedade vitalista, futurística, um sujeito abatido é um incomodo. Em mim não
existe vergonha ou culpa por ser depressivo e inclinado a solucionar este
mal-estar com cicuta, há a compreensão de que provoco insatisfações,
contrariedades, mal-estar nas relações sociais. O depressivo, como a velhice,
as deficiências, os cânceres, em um mundo voltado ao “hipergozo”, é um incomodo não apenas no “adoecido”; é um
incomodo maior nos que fantasiam a vida um todo harmônico, pungente, desejável.
No depressivo não há vergonha, falta-lhe fantasia. O pior em qualquer doença é
o seu valor social (se é coisa de gênios ou de fracassados). Eu não serei
vencido pela culpa: já não sou filho nem de Adão, nem de Édipo; da doença não
prometo: uma hora, talvez, eu pare com os medicamentos ou os “confunda” com a
cicuta...
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