Na tradição poética e mítica grega, a
verdade [alétheia] tem sentido de desvelamento do ser, lethe significando véu,
encobrimento, e alpha, em seu prefixo, designando negação... (Julia Cristina Tosto Leite, O desejo na velhice: notas sobre a
relação entre verdade e gozo).
Estava
sendo manhã de primavera. Sob a mesa um vaso de violetas sem flores, o
dicionário de psicanálise, dois ou três livros, a xícara. Trouxe-lhe o texto que
me pedira para corrigir. Combinava o batom com o tom predominante da blusa que,
desabotoada, deixava à mostra o vale entre os seios, colinas que meus olhos
exploravam. Lia, dedicada, o texto, fazia anotações com o lápis, destacava
passagens com a caneta. Conferia referências e indicava outros autores. Desviou levemente a xícara. Pude ler em sua
borda: doce vida!
Estava sendo manhã de primavera, tirou a blusa
e a encostou junto à bolsa alojada próxima a janela. Comentei sobre um detalhe
de sua camisa. Fomos brevemente interrompidos pelo telefone. Brincava com a
caneca sobre a mesa, enquanto falava ao telefone. Inclinava o corpo forçando a
cadeira para trás...
Corria
o olhar por seu corpo estendido à cadeira, inclinada para trás. Desnudava-a com
olhares furtivos, desabotoava-lhe a camisa, desapertava-lhe o sutiã, desvelava-lhe
a intimidade. Sua língua se entrecruzava à minha... Ofegante acariciava-lhe os
mamilos, massageava-lhe o clitóris... Movíamos em perfeita sintonia, entre
gemidos e suspiros de prazer,...
Estava
sendo manhã de primavera, por um momento valeu o que se podia ler na borda da
xícara: doce vida... Recolocou o telefone no gancho, retomamos a revisão do
texto: “O desejo é linguagem e só é acessível por um semidizer...”
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