quarta-feira, setembro 28, 2016

Halinne


Na tradição poética e mítica grega, a verdade [alétheia] tem sentido de desvelamento do ser, lethe significando véu, encobrimento, e alpha, em seu prefixo, designando negação... (Julia Cristina Tosto Leite, O desejo na velhice: notas sobre a relação entre verdade e gozo).

Estava sendo manhã de primavera. Sob a mesa um vaso de violetas sem flores, o dicionário de psicanálise, dois ou três livros, a xícara. Trouxe-lhe o texto que me pedira para corrigir. Combinava o batom com o tom predominante da blusa que, desabotoada, deixava à mostra o vale entre os seios, colinas que meus olhos exploravam. Lia, dedicada, o texto, fazia anotações com o lápis, destacava passagens com a caneta. Conferia referências e indicava outros autores.  Desviou levemente a xícara. Pude ler em sua borda: doce vida!
 Estava sendo manhã de primavera, tirou a blusa e a encostou junto à bolsa alojada próxima a janela. Comentei sobre um detalhe de sua camisa. Fomos brevemente interrompidos pelo telefone. Brincava com a caneca sobre a mesa, enquanto falava ao telefone. Inclinava o corpo forçando a cadeira para trás...
Corria o olhar por seu corpo estendido à cadeira, inclinada para trás. Desnudava-a com olhares furtivos, desabotoava-lhe a camisa, desapertava-lhe o sutiã, desvelava-lhe a intimidade. Sua língua se entrecruzava à minha... Ofegante acariciava-lhe os mamilos, massageava-lhe o clitóris... Movíamos em perfeita sintonia, entre gemidos e suspiros de prazer,...

Estava sendo manhã de primavera, por um momento valeu o que se podia ler na borda da xícara: doce vida... Recolocou o telefone no gancho, retomamos a revisão do texto: “O desejo é linguagem e só é acessível por um semidizer...”  

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