segunda-feira, setembro 05, 2016

A BANALIDADE DO MAL ESTÁ EM NÃO SABERMOS DELINEAR OS LIMITES ENTRE BEM E MAL

Não vem escrito na farda do policial: "sou o policial bom; sou o mal policial". Na minha testa também não está escrito que sou "pai de família ou vagabundo, estudante ou vândalo", como me reportou um policial durante uma batida. Mais que humilhante, é desesperador você, após uma jornada de trabalho e estudo noturno, ser, sob a mira de uma arma engatilhada, obrigado a deitar-se no chão e ser chamado de bandido, de "preto safado", maconheiro. Não foi uma só vez que passei por essa experiência. Em uma delas, minha esposa e meu filho, então com três anos, apartados por dois policiais, assistiram à abordagem truculenta e imotivada de outros dois policiais. Trabalho desde os doze anos de idade, o único ato de vandalismo que me recorre foi colocar bombinhas em caixa de correios de alguns "nobres cidadãos poaenses" em épocas de São João. É dos quinze que associo trabalho estafante e estudo precarizado pelo cansaço meu e de professores mal remunerados, desconsiderados por sucessivos governos. Nunca foi um policial cortes, educado, gentil que me abordou. E foi um amigo policial quem me deu a resposta: "não está escrito no rosto dos bons que eles são bons. Na duvida, primeiro atiramos, rezando para que não seja pai de família..." Tem policial bom? Deve ter. Na dúvida porém, prefiro acreditar que todas são arrogantes, prepotentes e prontos para atirar. Evito ser o pai de família no lugar errado, na hora errada. Lugares e horas, decididos por quem está no poder. Dentro de uma farda há um ser humano, eu acredito nisso. Mas o humano, perfectível, mas não perfeito, destinado a um plus, mas se vê sempre às volta com o ser menos, é sempre uma surpresa sem aviso algum de ser bom ou não. Alienado em uma instituição, seja ela qual for, é sempre uma ameaça, porque deixa de ser o sujeito de sua ação. Daí à "banalidade do mal", expressão de Hannah Arendt, a distância é sutil. A Policia Militar de São Paulo, parece não se dar conta de ter atravessado as barreiras do razoável, do mínimo de urbanidade que se exige de qualquer poder civilizado. A truculência costumeira, que já se provou incapaz de combater a criminalidade, investida contra civis em manifestos políticos, denuncia sua nítida ineficiência e esgotamento. Se, de antemão, não podemos identificar a índole de um individuo, de uma instituição não podemos dizer o mesmo. A Polícia Militar não tem sido uma boa instituição. 

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