Não vem escrito na farda do policial: "sou
o policial bom; sou o mal policial". Na minha testa também não está
escrito que sou "pai de família ou vagabundo, estudante ou vândalo",
como me reportou um policial durante uma batida. Mais que humilhante, é desesperador
você, após uma jornada de trabalho e estudo noturno, ser, sob a mira de uma
arma engatilhada, obrigado a deitar-se no chão e ser chamado de
bandido, de "preto safado", maconheiro. Não foi uma só vez que passei
por essa experiência. Em uma delas, minha esposa e meu filho, então com três
anos, apartados por dois policiais, assistiram à abordagem truculenta e
imotivada de outros dois policiais. Trabalho desde os doze anos de idade, o
único ato de vandalismo que me recorre foi colocar bombinhas em caixa de
correios de alguns "nobres cidadãos poaenses" em épocas de São João.
É dos quinze que associo trabalho estafante e estudo precarizado pelo cansaço
meu e de professores mal remunerados, desconsiderados por sucessivos governos.
Nunca foi um policial cortes, educado, gentil que me abordou. E foi um amigo
policial quem me deu a resposta: "não está escrito no rosto dos bons que
eles são bons. Na duvida, primeiro atiramos, rezando para que não seja pai de
família..." Tem policial bom? Deve ter. Na dúvida porém, prefiro acreditar
que todas são arrogantes, prepotentes e prontos para atirar. Evito ser o pai de
família no lugar errado, na hora errada. Lugares e horas, decididos por quem
está no poder. Dentro de uma farda há um ser humano, eu acredito nisso. Mas o
humano, perfectível, mas não perfeito, destinado a um plus, mas se vê sempre às volta com o ser menos, é sempre uma
surpresa sem aviso algum de ser bom ou não. Alienado em uma instituição, seja
ela qual for, é sempre uma ameaça, porque deixa de ser o sujeito de sua ação.
Daí à "banalidade do mal", expressão de Hannah Arendt, a distância é
sutil. A Policia Militar de São Paulo, parece não se dar conta de ter
atravessado as barreiras do razoável, do mínimo de urbanidade que se exige de
qualquer poder civilizado. A truculência costumeira, que já se provou incapaz
de combater a criminalidade, investida contra civis em manifestos políticos, denuncia
sua nítida ineficiência e esgotamento. Se, de antemão, não podemos identificar
a índole de um individuo, de uma instituição não podemos dizer o mesmo. A
Polícia Militar não tem sido uma boa instituição.
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