sábado, setembro 03, 2016

PORQUE NÃO MORRO DE UMA VEZ


O sujeito que nasce já começa a morrer... Nós temos que escrever como quem morre. (Nelson Rodrigues)

O que segue não é um pedido de ajuda, não orem por mim, não é uma justificativa, um pedido de desculpa, não descreve, não esclarece, não elucida. É uma incomoda confirmação.


Eu sou suicida! É uma questão de tempo (um dia, um ano, dez anos), para que o desejo de morte vença a vontade de viver, vontade que não é minha, mas dos que me rodeiam e me “querem bem”, e suas crenças em uma vida que merece ser vivida... Eu não tenho um motivo real para querer morrer, não tenho nada contra a vida, nem contra a experiência finita do viver.  Em mim estranheza e indiferença se misturam, não me sinto situado em questão alguma: ficar a contemplar o botão de rosa que não plantei e que se oferece ao sol espontaneamente, isto me mobiliza e me aliena. Tudo o mais, é acontecimento. O mundo que cai a meu redor, já caia antes de mim, continuará caindo com ou sem minha voz emprestada à esquerda ou à direita. Quando a vontade, sempre em ponto de derrocada, se sobrepõe ao desejo, empresto minha voz aos derrotados do mundo, uma voz inútil numa luta em que já se sabe do vencedor antes do confronto. Há dias que me iludo, vejo os meninos correndo, se desenvolvendo, o mais novo se aninha em meus braços, dorme. A mãe sorri e planeja viagens... Mas um verme age por dentro da fruta de aparência madura. Ora ou outra o desejo há de se impor à vontade... vou sendo... morrendo como todos e tudo. Vivo em um abismo e uma voz grita o salto. A flor de minha existência sorri-me e tênue me sustenta. Não hoje! Amanhã, daqui um ano ou dez, o fio se rompe, a voz que clama o salto vence. Como verme, o desejo se sustenta por dentro...  Eu sou suicida, nasci para faca e ela me sorri!

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