quinta-feira, setembro 29, 2016
PARECER A CERCA DO ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE EM UMA UNIDADE DE PRIVAÇÃO DE LIBERDADE.
quarta-feira, setembro 28, 2016
Halinne
PLANO FROTA DE EDUCAÇÃO
terça-feira, setembro 27, 2016
SOBRE DIVAGAÇÕES INSONES E SETEMBRO AMARELO
sábado, setembro 24, 2016
SOBRE A REFORMA DO ENSINO MÉDIO
SE NÃO TOMO MEUS REMÉDIOS CONJECTURO COISAS
segunda-feira, setembro 19, 2016
FLOR NO CABELO
Ela
chegou com flor de tecido no cabelo combinando com o vestido hippie colorido, a
sandália rasteira. Acenou-me assim que
me viu. Contemplei sua figura aproximando, um contentamento invadia-me.
Trocamos um selinho, nos abraçamos, perguntamos um do outro: “Como você está?
Tudo bem!”. Nos sorrimos e, então, nos beijamos mais demoradamente. Pude sentir
o perfume de seus cabelos, de sua pele. Procuramos um lugar discreto para nos
acomodar. “O bom daqui”, disse-me, “é a vista do mar”. Seu sorriso satisfeito, seus
olhos nem verde nem castanho sutilmente delineados a lápis, os lábios
abatonados de um bronze suave, a face corada realçando o jambo natural de sua
pele, tudo me absorvia... Ela pediu suco, pão com frios grelhado, eu café e
queijo branco, também grelhado... Por baixo do vestido se intuía os seios
livres que meus olhos buscavam, através do decote, como criança à fresta da
porta, abarcar os contornos. Ela percebeu, fiquei sem jeito. Ela apenas sorriu
um paraíso... Conversamos sobre coisas do passado, o compromisso que teríamos, música...
Falou-me de Cazuza, Renato Russo, um grupo americano. Falei-lhe de Tom Zé,
Belchior, Elza Soares... “Foi uma tarde de maio. Não junho...”, comentou.
Fiz-lhe um ponto de interrogação, questionando-a. “A primeira vez que nos
beijamos, foi numa tarde de maio, diz depois de teu aniversário. Você, em teu
texto, escreveu junho...”. “Eu não sou bom com datas, você sabe!”, redargui
como que me desculpando. Ela afagou-me os cabelos e selou meus lábios aos
seus... Descemos a orla em sentido ao
centro comercial, caminhávamos sem pressa, mãos dadas. Ela me falava de seu
novo romance e pedia-me opinião sobre um determinado personagem. Eu quase não
falava, soltava uma ou outra interjeição, apenas assentindo com seu
entusiasmo... Lamentou não estar preparada para um banho de mar. Comentei que
poderíamos parar em um negócio qualquer e comprar um biquíni que lhe agradasse;
ela poderia se utilizar do provador. “O editor nos aguarda!”, sorriu-me.
“Almoçamos com ele?”, perguntei. “Não, devo apenas aprovar a capa do livro e
fechar a programação de lançamento”. Reforcei-lhe a ideia do biquíni “podemos
almoçar próximo à praia e antes de retornarmos ao Hotel, se quiseres, ...” “Que
horas você tem?”, perguntou-me. “Estamos bem adiantados!” respondi. Ela, então,
puxando-me pelas mãos, assumiu a direção do mar. A certa altura, desfez-se do
vestido e da flor do cabelo e, de minúscula calcinha salmão, correu mar
adentro. “Foi em uma tarde de maio e não junho...”, pensava enquanto recolhia
seu diminuto vestuário, “foi em uma tarde de maio e não junho...” Foi numa
tarde de paraíso que eu a contemplei, como agora, envolta pelo mar em plena
travessura de criança. Naquela tarde presenteava-lhe uma flor de cabelo.
domingo, setembro 18, 2016
UM CERTO DOMINGO
sábado, setembro 17, 2016
SOBRE CONCURSADOS E POLÍTICOS
quinta-feira, setembro 15, 2016
COISAS DE PAU D'Alho
quarta-feira, setembro 14, 2016
ONDE NÃO HÁ FANTASIA FALTA VERGONHA
quarta-feira, setembro 07, 2016
A ÁGUIA E O PATO DA VEZ
terça-feira, setembro 06, 2016
DESCRIÇÃO DE UMA JORNADA
segunda-feira, setembro 05, 2016
A BANALIDADE DO MAL ESTÁ EM NÃO SABERMOS DELINEAR OS LIMITES ENTRE BEM E MAL
SOBRE A AÇÃO DA TROPA DE CHOQUE CONTRA TRABALHADORES
sábado, setembro 03, 2016
CINCO PAIS
Somos cinco. Cada qual filho de um homem diferente. O mais velho, o pai, juiz de direito, não o reconheceu. Mãe tinha, 14 anos. Vô perdeu no jogo de cartas. A virgindade de mãe saldou a divida. Um dia, pai e filho se avistaram frente a frente e o pai condenou o filho por ofensa a um político amigo. O filho, 16 anos, dizem, enforcou-se sob custódia do Estado. Há quem diga ter sido represaria por não andar com as mãos para trás e pedir “licença senhor”. O pai continua a ganhar jovens virgens em cartas marcadas, a ceder habeas-corpus aos amigos do poder, a ser Deus todo poderoso... O segundo tem no pai o tio. Tenente de polícia, homem de duas vestes: farda e terno. De caráter intolerante, no terno prega o Deus da vingança, na farda, o rigor da lei e da ordem. Em ambos os casos se impõem contra pobres e despossuídos que em seu entendimento são pecadores e bandidos. Quando o filho-sobrinho nasceu, o confiou a um casal que se mudava para o sul. O casal deixou a criança em uma parada... De meu pai sei que era professor de ensino fundamental e envolvido em um movimento separatista. Mãe o matou quando ainda me carregava em si. “Foi seu homem”, costuma dizer em seus delírios: “o que ela amou”. Mas “tinha sua dignidade e não admitiu o punho cerrado contra si”. A tragédia a fez fugir para a cidade e a viver do corpo. “Os homens não se incomodavam com o tamanho de minha barriga; havia prazer em seus olhos...” [...] “Você nasceu num dia de chuva, um maio que se acabava em água, debaixo de uma lona. Você demorou a chorar e todos achavam que nasceste morto. Mas o choro veio parecendo romper uma resistência...” Do quarto mãe não sabe dizer quem é o pai. A profissão exigia-a. Deitava-se com quinze, vinte homens numa noite. Sabe que foi numa festa promovida por políticos... O quinto é filho de um padre que costumava distribuir cobertores e sopa para moradores de rua. Mãe, de quando em quando, o leva para assistir missa apenas para divertir-se com o padre atrapalhando-se na homilia e nos ritos: “brota-lhe água como se fosse uma nascente”, mãe gargalha, consumida. Aos doze anos deixei a escola para vender balas nos faróis e nos trens da CPTM. Uma tarde dois “bicos” tomaram-me as balas e me deixaram preso em um sala até o fim da noite. Uma outra vez, uma senhora achou que eu estava roubando e chamou a polícia. Fiquei três ou quatro dias dividindo cela com cinco adultos. Um deles queria que eu lhe fizesse uma “chupeta”. Os outros o repreenderam a socos e pontapé. Um outro, orientou-me: “no mundão procura Fulano de tal e diz que foi o Caveira que te enviou, ele te protege...” Quem o procurou foi o que nasceu sem que mãe reconheça o pai. Fulano de tal é político grosso e confiou a meu irmão, por completar 10 anos, um ‘cano’ e a vigilância de uma ‘biqueira’. Na tarde em que Fulano de tal pronunciou-se a favor da redução da maioridade penal, um que poderia ser seu filho, em troca de tiro com a polícia, morria. Mãe não chorou, embriagou-se e cheirou cocaína toda uma semana. Depois disso veio-lhe os delírios e o seu definhar. Desde que estou aqui, eu não tenho noticias de meu quinto irmão. E só estou pensando nele porque um bispo nos veio visitar. O sacerdote conheceu o funcionamento do centro socioeducativo... conversou com os adolescentes na área pedagógica, estimulando-os, a todo momento, a traçar novas trajetórias de vida. Enquanto ele se esmera em gestos e sorrisos afáveis, penso em meus irmãos, em nossos pais. Quem irá até eles com uma palavra a dizer-lhes que somos frutos de suas trajetórias de vida?