terça-feira, abril 20, 2021

VELA EM PROCISSÃO

 


“Nós não somos flagelados que vieram buscar refúgio em algum lugar na América do sul. Nós somos povos originários, precisamos ser tratados com este respeito" (Ailton Krenak)

Segundo o Ailton Krenak, os totalitarismos não suportam muitos, não suportam muitos gêneros, muitas espécies, muitas classes, múltiplas culturas. Para os totalitaristas, segundo o Krenak, há uma só espécie: a humana, e um só mundo e um só sistema mundo: o Capitalismo. E o Capitalismo parece mágico: ele faz aparecer a água na torneira, o leite na caixa, o produto na gôndola, destituído das vidas implicadas em sua produção. Os totalitarismos não suportam a ideia de múltiplos sistemas e de pluralidade. Na concepção mágica do subalterno do capitalismo há a crença de que o capitalismo após consumir o mundo é capaz de produzir outro mundo e desenvolve, então, uma Antologia Fast Food: “Come o mundo, come o mundo, come o mundo, come o mundo”, é uma obsessão em que o lucro é o único interesse. As vidas, as vivencias ou são mercadorias ou são combustíveis da engrenagem de comer mundo. Neste clima, a única coisa que nos resta parece ser o de detonar o outro. Mas Krenak é um tipo otimista. Ele acredita que é possível recuperar o espaço do comum, sustentar a pluralidade de vidas e vivências, na coexistência de cosmovisões que tratam a terra e suas espécies, como Mãe e como irmandades (nós somos irmanados aos outros seres e elementos da natureza) e não latifúndio, produtos, mercadorias. Um mundo habitável, um mundo comum, um mundo que não seja produto a ser consumido, mas co-vivenciado, passa por respeitar os povos originários. Ailton Krenak é dessas chamas de vela em procissão: trepidante mas sustentada por mãos confiantes de uma fé no misterioso sagrado, que permeia a natureza e o humano, e nos conduz a uma dança cósmica futura. Está ultima parte, quem sabe, seja apenas uma minha interpretação.

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