domingo, abril 04, 2021

TIMÓTEO

 


“Se você está pensando em deixar-me por favor eu quero lhe pedir: Deixe-me outro dia sim, porém hoje não.” Agnaldo Timóteo

 

Nas festas , Timóteo era presença certa. Tio comandava a vitrola e, a seu juízo, festa sem Timóteo não era festa. Lembro-me dele “aprumando-se”, como dizia, “pras madamas de dona Zita.” “Que coversa é esta com esses meninos ?”, ralhava vó, “vai arrumar serviço!”.  Tio ria e sai cantarolando: “Amor proibido/A minha maneira é autencidade/ Vou ficar contra o mundo/ Mas não posso fugir/ deste amor que é verdade...” Nos sábados, à tardinha, tio dependurava o espelhinho do lado do tanque, tomava da navalha, se barbeava. Depois, se enfiava numa camisa vermelha,vistosa, ornada por terno branco. Tio se metia um chapéu de abas curtas combinando com o terno, flor de cravo na lapela. “Onde vai o janota?”, perguntava vó . Cheirando a colônia de barbear, tio impostava a voz à Timóteo e parodiava: “Eu hoje vou sair e procurar uma nora para ti”. “Se encontrar, deixa por lá mesmo!”, retrucava vó, sorrindo-lhe. Tio beijava-lhe a testa, pedia-lhe benção, ganhava o mundo cantarolando: “se eu demoro mais aqui eu vou morrer...” Um dia tio trouxe nora e neto. Mas esta é uma outra história, que deixo para uma outra hora.   Tio e Timóteo agora estão em festa.

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