quinta-feira, abril 01, 2021

A MISSÃO DE JESUS É UM FRACASSO

 


 

Olá! Como vocês estão? Espero que bem e se cuidando, seguindo as orientações sanitárias, usando máscara, álcool em gel, saindo apenas se necessário, mantendo distanciamento social, evitando aglomerações.

 

Não sei se vocês têm ou não uma crença, se vocês são ou não cristãos. Não sei, se vocês sendo cristãos, seguem ou não algum movimento ou Igreja. Independente disto tudo, crendo ou não, seguindo ou não esta ou aquela igreja, somos culturalmente cristãos. Até mesmo para negar a existência de Deus, negamos da perspectiva cristã.

Quero tratar aqui com vocês, respeitando a sensibilidade religiosa de cada um de vocês do evento da paixão de Jesus, o Nazareno, que culmina em sua morte na cruz. Lembro que há dois eventos da história do crucificado que requerem a dimensão da fé: sua concepção virginal; sua ressurreição. Mas a vida que Jesus viveu, as opções que orientaram sua ação existencial e que o levaram à prisão, à tortura, a um julgamento forjado, a uma condenação espúria, a uma morte ultrajante, dá se do arco das ações humanas, não há nesses eventos intervenção divina. Na cruz não ocorre um deicídio, há o assassinato de um homem, de um ser humano. O homem transfigurado na cruz revela a crueza a que nós homens, quando nos apegamos ao poder, à riqueza, à falsa honra, podemos chegar. “Jesus morreu por nossos pecados.” Este “por” não significa, de modo algum, em nosso favor. Morrendo na cruz, Jesus não nos alivia de nossos pecados. Não, este “por”, é imputativo. A morte vergonhosa de Jesus é responsabilidade nossa, Jesus morre por nossos atos, por nosso apego ao poder, à riqueza, à falsa honra.

A sua vida e o seu ensinamento foram um confronto continuo contra as autoridades religiosas, políticas e econômicas, que usam do saber e do prestígio para enganar, expropriar, explorar, perseguir, matar.  Jesus evidencia que todo poder, toda riqueza, todo mérito sustenta-se da dor, do sofrimento. Para Jesus não sentido uma pessoa, em nome de Deus, acumular terras que não produz, casas cheias de quartos que não habita, bens que não usufrui e as traças corroem, ante multidões famintas, doentes, desempregadas. Para Jesus não há preguiça, não há acomodação, não há desinteresse nos desfavorecidos, há exploração e expropriação. A pobreza é roubo. E usa-se o nome de Deus para justificar tal roubo.

“Jesus morre para cumprir a vontade de Deus”, do seu Deus. Mas não é vontade de seu Deus que ele morra. Ele morre, porque ao cumprir a vontade de seu Deus, ele vai contra nossa mesquinhez humana. Nós matamos Jesus porque a vontade de seu Deus: um mundo fraterno, um mundo em que as coisas sejam comuns, o pão chegue a todos, a terra seja de todos, em que as pessoas sejam respeitadas, acolhidas, tenham vida digna, assumam suas escolhas, não nos interessa.

Jesus para cumprir a vontade de seu Deus não pode abrir mão dos perseguidos, dos doentes, dos expropriados, dos explorados, dos encarcerados, que por perceberem as tramas religiosas, políticas, econômicas, se opõem e se insurgem contra elas. Não, Jesus cumpre até o fim a vontade de seu Deus, consequentemente é assassinado. O Deus dos templos, o Deus dos sacerdotes, o Deus dos cidadãos de bem, o Deus dos caridosos que dão esmolas com a moeda da viúva e do órfão, não é o Deus de Jesus. A morte de Jesus não é vontade de Deus, não do seu Deus, a morte de Jesus é fruto de nossas ações, é em nome de nossos interesses, é em nome do Deus do privilégio, do mérito. “Jesus morre por nossos pecados”, somos responsáveis por sua morte.

O cristianismo que se desenvolveu após a morte de Cristo é um retorno ao Deus dos templos, dos sacerdotes, dos senhores, dos cidadãos de bem, dos meritocratas, dos que fazem caridade com o que tiram dos pobres. No corpo pendendo na cruz vislumbramos o fracasso do Deus de Jesus. O Deus de Jesus, com o cristianismo perdeu espaço, em seu lugar assumiu o Deus doador de privilégios para alguns, “os agraciados”, e o deus terrível, o Deus Castigo dos empobrecidos, dos expropriados dos perseguidos.

O Cristo transfigurado na cruz ilustra do que somos capazes, por nossos pecados, para não abrir mãos deles, de fazer com um ser humano. Não é preciso ter fé, não é preciso crer em Deus, para ver no Cristo morto nossa capacidade de transfigurar a humanidade. Nós temos o poder de desumanizar o ser humano e usar Deus como escusa. A missão de Jesus é um fracasso.

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