Estávamos reunidos em um jardim, não era longe de casa. De repente cercou-nos a polícia, um que andava com a gente, uns canalhas. Queriam nosso irmão e mestre. Um ou outro de nós esboçou resistir, mas ele se ofereceu à prisão. Uma barreira de policiais de formou entre nós e ele. O vimos, então, sumir arrastado sob regozijo dos canalhas que davam suporte à policia. Sobre nós abateu o desespero, o medo, o acorvardamento. Durante dias ficamos sem nos reunir, evitando tocar o nome de nosso companheiro. Por familiares, a mãe principalmente, ficamos sabendo que ele foi torturado e cruelmente assassinado. Seu corpo ficou irreconhecível... O medo de sermos também nós presos levou-nos a nos esconder. Aos poucos, e ainda receosos, fomos nos reorganizando. E mesmo abatidos com a morte de nosso irmão, já não deixávamos de falar dele. E então fomos lembrando seus atos e palavras. Um lembrava de como ele acolhia as pessoas, outro lembrava de como ele o convidou para o grupo, outro lembrava de sua dedicação aos doentes, aos órfãos, as viúvas. Outros lembravam suas falas sobre uma outra realidade possível, que ele chamava Reino. Os doentes seriam tratados, os camponeses teriam terra, o pobre seria assistido, não haveria injustiças. Suas convicções enchiam-nos de esperança. Aos poucos, de relato em relato íamos compreendendo o que ele nos dizia, sua morte já não nos abatia, já não tínhamos medo, e quando demos conta, falávamos dele em pleno dia. E fomos além. Tomados de coragem começamos a agir como ele agia, visitávamos os doentes, alimentávamos os famintos, socorríamos os perseguidos, acolhíamos o estrangeiro, partilhávamos o pão e o vinho. Em nossos atos, em nossas palavras, sentíamos sua presença. Foi quando compreendemos algo que ele nos dissera: “toda vez que fizestes isto aos pequeninos, aos aflitos, aos excluídos deste mundo, a mim o fazeis e eu, entre vocês, estarei”. Naquela tarde, um dos nossos, vencendo certa resistência, acolheu um cheio de feridas, tratando-o como fosse o corpo torturado de nosso companheiro. “De fato, vive!”, disse-nos. Mas foi quando dividimos o pão e o vinho, e ninguém, por ser isto ou aquilo, por fazer esta ou aquela escolha, deixou de comer ou beber, naquela tarde, nós o vivemos. Do colo da mãe, uma criança anunciou: “O Cristo Ressuscitou! Aleluia! O Cristo vive! É em nós, em nossos gestos e palavras!”Foi então que entendemos: “Somos nós que damos vida ao Cristo e atuamos o seu Reino.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário