Para VI MOSTRA DE ARTES CÊNICAS OPERETA¹
Há
algum tempo vimos assistindo a um processo de desqualificação de nossas
instituições. No combate à corrupção colocamos sobre suspeita todos e tudo. E
para onde olhamos, queremos indicar responsabilidades. Também o artista é
chamado a se explicar e assumir posição, tanto mais quando, para produzir sua
arte, conta com financiamento público. E diante dos impasses quanto a nosso
futuro enquanto nação que ainda não se firmou democraticamente, surge-nos um
questionamento: qual o papel do artista nas demandas políticas que determinam
seu ser-existir? Como o arista articula sua dança, sua música, sua poesia, seu
teatro, seu canto aos ditames das decisões políticas? Ainda mais quando tais
decisões comprometem o futuro, pois o anunciam menos, num Estado restrito e
restritivo entregue às leis do jogo econômico?
A
arte não é pura fruição, não é puro alheamento ou gratuita alienação. É
articulação com o mundo humano, o mando e desmandos em que se embatem sensações,
sentimentos, concepções de mundo e de pessoas com suas mentalidades, seus
conhecimentos e suas ilusões e ou enganos.
O
artista não é profeta, não é oráculo, não é sacerdote, não é o guardião de um
mistério, não é um bufão a alegrar a corte. É um produtor-questionador de sentidos,
de significações. Ele não explica, não anuncia, não evidencia. A força e a
originalidade de sua arte é nos remeter ao estranhamento à nossa existência
humana. Ele, com sua criação, rompe com o cotidiano, com o mesmo, com o rotineiro,
nos remete à realidade que presente ante nós, não chegamos a perceber. O
artista interrompe o passo apressado do transeunte, desvia-lhe o olhar, aponta
para algo que lhe concerne e que lhe passa despercebido. O artista liga a
pessoa à sua realidade, provocando-a, colocando-a em questionamento. E o
artista, cômico ou trágico, concreto ou abstrato, realista ou romântico é necessariamente político, pois o seu
provocar se dá na arena, diante de um público: seu provocar é um incitar.
Onde
não há convite a pensar, a buscar compreender, não há arte. Pois, mesmo lá onde
se diz haver pura espontaneidade, esta se torna arte, porque nos incomoda, nos
provoca, requer-nos uma resposta. Em tempos em que tudo esta preste a ser entregue
à fúria dos insensatos, à arrogância dos opulentos de posses, mas vazios de
sentidos, e à falta de bom senso daqueles que nos pretendem administrar, o
artista é convocado a nos provocar, tirar-nos de nosso cômodo, exigir-nos
posicionamentos. O artista não nos decide a sorte, mas pode nos ajudar a
assumir nossa responsabilidade no mundo que produzimos, mesmo quando não o
fruímos.
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