Ela
quase surpreendeu-me o olhar com que eu a fantasiava.
Ela
brincava nas águas tranquilas e tépidas da piscina menor, na qual descansava as
águas de uma cascata artificial. Eu estava sentado sob o toldo próximo ao bar e
tomava caipirinha de vodka. Curtia minha natural melancolia, com semblante de
poucos amigos, avisando às pessoas ser de pouca conversa.
Quando
a vi, tal rosa abrindo-se ao sol, emergir de entre as águas da piscina, olhei
ao redor, certificando-me da cumplicidade de outros olhares, mas o barman
atendia um outro cavalheiro, acompanhado da senhora e interessado em uns
petiscos que indicava ao barman. O bombeiro acompanhava o grupo de banhistas da
piscina central, envolvidos num jogo aquático, proposto por um monitor.
Um
instante de satisfação e desejo de vida aflorou-me, lembrando-me que eu devia
ser feliz. Olhos cerrados, ela sorria e movia suavemente os lábios, como a
cantarolar a si uma canção. De gestos comedidos, suaves, graciosos, meneava a
cabeça, os quadris. Tinha uma beleza sensual de adolescente consciência de si.
Eu
a consumia com fantasias que se assomavam ao despertar de remotos desejos.
Misturo-me à água da cachoeira de granito e cimento, e escorro-me por seu corpo,
e a envolvo junto às águas tépidas da piscina.
Ela
quase surpreendeu-me o gozo no olhar. Desviei o olhar para as pedras ao redor, procurava
olhares cúmplices ao meu; todos se ocupavam de seus deleites. Respirei um
respiro aliviado. A leve satisfação de um pecado aos poucos cedeu lugar a meu
gosto de solidão.
Curti
o findar do dia à memória daquele momento luminoso.
Procurei
me informar na recepção. Não havia hospede com a descrição que eu fazia.
O desejo produz seus
objetos... ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário