sábado, julho 09, 2016

FINDAR DO DIA

“Não fites com insistência uma beleza desconhecida.” Eclesiastes

              Ela quase surpreendeu-me o olhar com que eu a fantasiava.
Ela brincava nas águas tranquilas e tépidas da piscina menor, na qual descansava as águas de uma cascata artificial. Eu estava sentado sob o toldo próximo ao bar e tomava caipirinha de vodka. Curtia minha natural melancolia, com semblante de poucos amigos, avisando às pessoas ser de pouca conversa. 
Quando a vi, tal rosa abrindo-se ao sol, emergir de entre as águas da piscina, olhei ao redor, certificando-me da cumplicidade de outros olhares, mas o barman atendia um outro cavalheiro, acompanhado da senhora e interessado em uns petiscos que indicava ao barman. O bombeiro acompanhava o grupo de banhistas da piscina central, envolvidos num jogo aquático, proposto por um monitor. 
Um instante de satisfação e desejo de vida aflorou-me, lembrando-me que eu devia ser feliz. Olhos cerrados, ela sorria e movia suavemente os lábios, como a cantarolar a si uma canção. De gestos comedidos, suaves, graciosos, meneava a cabeça, os quadris. Tinha uma beleza sensual de adolescente consciência de si.
Eu a consumia com fantasias que se assomavam ao despertar de remotos desejos. Misturo-me à água da cachoeira de granito e cimento, e escorro-me por seu corpo, e a envolvo junto às águas tépidas da piscina.
Ela quase surpreendeu-me o gozo no olhar. Desviei o olhar para as pedras ao redor, procurava olhares cúmplices ao meu; todos se ocupavam de seus deleites. Respirei um respiro aliviado. A leve satisfação de um pecado aos poucos cedeu lugar a meu gosto de solidão.
Curti o findar do dia à memória daquele momento luminoso. 
Procurei me informar na recepção. Não havia hospede com a descrição que eu fazia.
O desejo produz seus objetos...   







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