“Uma
polêmica contra o cristianismo não é absolutamente uma luta contra aquilo que é
cristão”. Heidegger
De
autoria do vereador Eduardo Tuma (PSDB), a Câmara Municipal de São Paulo, em 8
de junho, aprovou um projeto de lei que
instituía o dia de combate a “Cristofobia” a ser celebrado em 25 de dezembro. Felizmente,
o tal projeto foi vetado pelo prefeito Fernando Haddad. Segundo o proponente, o
projeto pretendia “garantir a liberdade” dos cristãos, que estariam sofrendo
“perseguições” ao criticar os homossexuais e as religiões de raízes africanas. Segundo
o proponente, que distorce o sentido de ser cristão: “Hoje, o cristão, principalmente o evangélico,
tem suas ações tolhidas por algumas opiniões. Você tem uma minoria sendo
tolhida de seus direitos, como liberdade de expressão e, até mesmo, às vezes,
liberdade de culto”.
Cristo
não disse que a vida dos que acolhessem seus ensinamentos seria fácil e
recompensadora, nos Evangelhos não está prometido prosperidade para os que o
seguem. Pelo contrário:
“Bem-aventurados
sois, quando as pessoas vos odiarem, vos expulsarem do convívio delas, vos
insultarem, e excluírem vosso nome, julgando-o execrável, por causa do Filho do
homem.” Lc. 6,22
“sereis
traídos até por pais, irmãos, parentes e amigos, e matarão alguns de vós.” Lc
21,16
“E,
por causa do meu Nome, sereis odiados de todos.” Mt. 10, 22
“Contudo,
o mundo vos tratará mal por causa do meu Nome, pois eles não conhecem Aquele
que me enviou.” Jo. 15, 21
Poderíamos
contrapor a estas passagens os versículos de 28 a 30 do capitulo dez de Marcos:
E
Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós tudo deixamos, e te seguimos. E Jesus,
respondendo, disse: Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa,
ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor
de mim e do evangelho, que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em
casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições; e no
século futuro a vida eterna.
Esses
que se dizem perseguidos e ameaçados, em nome de Cristo fundam suas práticas
numa perspectiva de ganhos; defendem uma doutrina em que o acumulo de bens é
bênção de Deus; que a adesão a Cristo faz aumentar sua riqueza material. Geralmente
pastores e padres alinhados a tal teologia são também alinhados a um moralismo rigoroso
e preconceituoso, de modo que não apenas condenam, mas chegam a justificar,
quando não, motivar, ações homofóbicas, iconoclastas, de perseguição aos cultos de raízes africanas,
às garantias de direitos da mulher...
De
tal modo, o que o nobre edil paulistano defende ser perseguição, é, a nosso ver,
combate a uma teologia distante dos
ensinamento de Cristo que pede a distribuição dos bens: “vende tudo o que tens,
dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me” (Lc. 18, 22);
o acolhimento dos mais necessitados: “Porque tive fome, e destes-me de comer;
tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu,
e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver.” (Mateus
25:35,36); a aceitação do próximo, que é aquele a quem “naturalmente”
condenamos e repudiamos (parábola do bom samaritano Lc. 10, 25-37).
Na ceia
com os discípulos, em que Jesus deles se despede, ele diz-lhes: “Dei-vos o
exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também..., se compreenderdes
essas coisas (capacidade de colocar-se a serviço, de acolher, de perdoar, de
amar, de doar a vida...) sereis felizes, sob condição de as praticardes.” (Jo 13,
15).
É
certo que certos pastores e padres preferem “E tudo o que pedirdes ao Pai em
meu nome, vo-lo farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Qualquer coisa
que me pedirdes em meu nome, vo-lo farei. (Jo 14,13-14), e fazem disso a
armadilha para extorquir seus rebanhos.
Não
existe uma perseguição a Cristo em nossa sociedade. Pelo contrário, Jesus é uma
personalidade, embora de difícil compreensão, admirável, revolucionária, inquietante,
provocativa. O que se condena é o oportunismo de um lado e a intolerância de
outro de certos seguimentos ditos cristãos, mas totalmente distantes do projeto
original de Cristo: "Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em
abundância" (João 10,10). Todos, não alguns, sustentados pelos demais. Não
perseguimos Cristo, combatemos esses alguns que se aproveitam de seus fiéis e
os tornam moeda política e econômica nas tramas do poder. Finalizando, cabe
aqui as palavras do Cristo contra escribas e fariseus: “Ai de vós padres e
pastores hipócritas!” (Mt. 23, 13-15). Não perseguimos a Cristo, vos combatemos!
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