As tias vieram para os 80 anos de vó. Chegaram na sexta-feira, logo depois do almoço. Tia Augusta se instalou com as primas Regina, Maria Célia e Ana Luiza em casa. Tia Ângela se instalou com a prima Semilda e o primo Antônio na casa de tia Almerinda. Os tios, por força de trabalho, chegariam no sábado tardinha. Já, sexta-feira, então, fazíamos festa. Na noitinha, tia Almerinda acendeu fogueira, assou broa, preparou canjica e pipoca. O quintal era que pura algazarra. As mulheres entre risos e gargalhadas, em torno de vó, já a festejavam com relatos do passado. Pai, tio Augusto, Toninho, de tia Almerinda , seu Jarbas, nosso vizinho, jogavam palitinho e comentavam a vida. Nosso alarido correndo pelo quintal e em torno da fogueira era sem igual. A noite de céu estrelado de lua crescente, o clima primaveril ajudavam. Entre tantos rumores de falas e de nossa algazarra, prima Semilda e o primo Luiz, só Deus sabe onde se enfiaram. Foi só quando tia começou a “levantar tenda”, como ela dizia, que se deu falta deles e eles apareceram, sorrisos envergonhado nas fuças. Sábado, cedinho, pai tio Augusto saíram ao matadouro. Foram em busca do leitão que as mulheres preparariam para o almoço de domingo. Também, cedo, as mulheres se colocaram a arrumar a casa, a polir talheres, a macerar temperos, despenar galinhas, preparar os doces. Nós fomos acordando conforme a divina graça. O mais atrasado foi primo Antônio, de tia Semilda, que só se levantou por hora do almoço. Depois do almoço, depois que as tias retomavam as fainas para o almoço de domingo, e pai e tio Augusto, e depois os tios Vicente e Januário, que chegaram, ajeitavam o quintal e montavam a tenda. As primas Regina e Maria Célia com minha irmã Celina e Margarida de ti Almerinda, preparavam enfeites e mexericavam umas das outras festivas. O primo Antônio e o primo Toninho foram à cidade para as bebidas. As crianças continuavam o corre-corre pelo quintal, de tudo brincando. O sábado acabou com nova fogueira, com moda de viola e causos de tia. O domingo começou com um lauto café: frutas variadas, queijos, salames, broa, pão de queijo, sucos de laranja, caju, acerola. Para o almoço vieram outros tios e tias, outros primas e primos e se estendeu horas. A cama de vó se cobriu de mimos. Veio o bolo e discursos emocionados de tios e tias que, ressaltando imagens jocosas de infância e revelando características e virtudes de vó, demonstravam carinho e gratidão. Vó derreteu-se em lágrimas e a todos agradeceu com uma de suas pérolas: “uma mãe não deve chorar na frente dos filhos se não for de orgulho pelo que se tornaram. Agradeço a Deus por ter filhos e filhas que me são motivo de orgulho.”
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