Quando
me perguntam: “Como você está?”, respondo: “Vivo!” A resposta mais acertada
seria: “Infelizmente, ainda vivo!” À minha resposta as pessoas sorriem
desconcertadas, elas percebem, devido o animo que aplico a “vivo”, o “infelizmente”
que omito. Estar bem, que é a resposta que as pessoas esperam à pergunta: “como
você está?”, neste mundo não é possível.
É preciso frieza, indiferença, insensibilidade, falta de empatia, incredulidade,
mesquinhes, para se estar bem, para dizer-se bem. Bem est devem estar os
mortos, pois nada sentem, nada percebem.
Sair de casa me é angustiante, a realidade bruta sufoca-me. Não é possível
passar sem incômodo por corpos estendidos pelas calçadas, causa-me desconforto
os corpos abatidos, os olhares tristes, cansados, desalentados de jovens e idosos
entregando-se a trabalhos precários, dói-me a horda de desempregados fazendo do
bico empreendimento. É impossível fazer-se surdo às narrativas de dor, lamento,
sofrimento de pedintes. Entro no ônibus, tomo meu assento, o ônibus parte. Numa
parada de seu trajeto, entra, pela porta dos fundos, uma senhora de 25, 30
anos: a imagem é essa. Ela tem uma criança no colo. Após uma longa saudação e
repetidos de desculpa, por “estar atrapalhando a viagem de vocês”, fala de suas
mazelas, do marido desempregado, do outro filho sob guarda judicial, da doença
que a acomete, da falta do gás, do leite para a criança, que também sofre algo
complexo. E apresenta atestados médicos. A criança é, de fato, subnutrida,
nota-se também o descuido higiênico. A meu lado, a estupidez humana
manifesta-se: “Na hora de parir não precisou de ajuda... Tivesse lavando um
tanque de roupa”. Desço do ônibus, o estomago em revolta, continuo meu destino
a pé, atravessando a rua sem me dar conta de faixa ou sinal, “ser atropelado
não seria nada mal” Chego a escola, entro na sala de aula, já não tenho o que
ensinar. Ensinar é suscitar desafios, despertar sonhos, projetar
esperanças. Eu sou apenas desejo de não
ser. Abandono os alunos em outras atividades. O desconforto aumenta, me
condeno: “não sou professor suficiente!”
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