sábado, setembro 25, 2021

EURÍPEDES DOS SANTOS E RODNER LÚCIO

 


Certa feita, conversávamos eu, Eurípedes dos Santos e Rodner Lúcio. Era conversa, a meu juízo “de homem”, pois falávamos de futebol, política, mulheres. Já ai, Rodner me advertiu: “não há conversa que seja de homem e conversa que seja de mulher!” Mas aquela era, bem dizer, uma novidade em nossos encontros, porque Eurípides e Rodner eram, geralmente, monotemáticos. Um falava apenas de educação, o outro de literatura. Mas naquela ocasião única falávamos de assuntos variados e distantes de nossos campos de ação. Faltava à mesa, e talvez por isso a “conversa de homem”, Christine Ramos, moderadora dos embates entre Eurípedes e Rodner. Eu pensei que podia dar o meu parecer a respeito da matéria em curso, e soltei: “ela é bonita e inteligente!” “A você, meu caro, disse Eurípides, além destes atributos, carece compreensão do ser feminino.” Ante minha expressão de incompreensão, ele explicou: “o “e” em tua fala é ofensivo à dignidade da mulher, dá a entender que uma coisa exclui outra. Não é a condição estética da mulher que a torna inteligente. A mulher é inteligente por ser mulher. É do ser da mulher ser inteligente.” A conversa continuou acerca da tabela da Copa que se aproximava e das possibilidades do tetra, que viríamos conquistar. Pelas tantas soltei: “Ô, lá em casa!”, para a menina que servia uma mesa ao lado. Novamente Eurípedes me arguiu: “Meu irmão, o princípio que tens para Christine, mesmo alcoolizado, tenhas para com todas as mulheres. Queres ser cafajeste, não o sejas em minha presença!” Rodner também manifestou-se: “Veja, a Christine não está aqui, então nos permitimos falar de mulheres, mas falamos como se ela estivesse aqui. O que não nos permitimos falar ante Christine, não nos permitimos falar em sua ausência, não só dela, mas de qualquer mulher. Nosso respeito não é pela Christine, é pelas mulheres. O não usar determinados termos, ou expressões, ante Christine é uma atitude moral, é de nossa educação. Não usá-los na ausência de Christine é ético, porque se estende a todas as mulheres. Algo que possa ofender Christine, ofende todas as mulheres. Não ofendemos Christine por ela ser nossa amiga, não a ofendemos por ela ser mulher. O respeito que temos com Christine é o respeito que temos por todas as mulheres. Este princípio vale no trato com qualquer pessoa, homem ou mulher: se algo me ofende, ofende a todos.” Mesmo alcoolizados, as conversas de Eurípedes e Rodner sempre acabam em lições. Não, não sei porque ando com eles, eles não são deste mundo.

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