Tomo meu assento no ônibus e aguardo a partida. Ao meu lado um entabula uma conversa: “como eu estava dizendo, o Pedro não tem perfil”. Olhei para ele sem entender do que se tratava, fiz cara de incompreensão e estranhamento. “A Maria, da pesquisa, aposto nela... Acho que ela não vai querer. Tem que viajar, ela tem os filhos.” Dei por entender que o sujeito não falava comigo, mas consigo mesmo. “Eu não vou com a cara do namorado da Patrícia, sabe, ele tem um jeito de me olhar que me encabula, parece que me está despindo. Outro dia, me convidou para acompanha-lo no banheiro. Eu sou muito amigo da Patrícia.” Cutucou-me o ombro: “O Afrânio também não vai, ele não quer dar de cara com a Marta e o novo namoradinho dela. Namoradinho mesmo, parece um bebe, deve ser uns vinte anos mais novo. Podia ser filho dela. O Afrânio tá que se perde na bebida.” O ônibus finalmente deu sinais de partir: “Adalberto”, dirigiu-se ao motorista, “por favor, me deixa no ponto do Caruzzo, e pode ir com calma, hoje eu estou bem adiantada.” “Mas como eu estava, dizendo,” retomando a conversa consigo mesmo, “o Pedro não tem perfil... Eu não quero ser cafajeste com a Patrícia, mas aquele namorado dela...” No Caruzzo eu desci, percebi estar só.
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