domingo, março 22, 2020

SEM ESTADO NÃO HÁ CIÊNCIA QUE NOS SALVE

Ao lado da arte, entre nós, nunca tivemos muito apreço pela ciência. Até ontem ela era tratada, como a arte, com desdém. Se da arte quem se dedica são os desajustados sociais (sim é isto que se pensa entre nós dos artistas), a ciência era um antro de balburdia e orgias sexuais (sim, foi isto que foi dito recentemente). Arte e ciência não precisam de cuidados do Estado. Na verdade, até ontem, nós achávamos que não precisávamos de Estado, que o mercado (o que é mesmo o mercado? O interesse de uns poucos banqueiros e uns poucos empresários, ditando como expropriar-nos corpo e alma) podia se auto regular e nos auto regular. Hoje acordamos esperando da ciência, sem recursos, sem equipamentos, sem cientistas a solução para o infortúnio que nos atinge. Não há ciência sem escola, sem professores. Cientista não se nasce. Cientista se forma num longo percurso que começa na escola. Escola, educação, professores ao mercado não interessa. Ao mercado interessa consumidores. As estatísticas dizem que as maiores vítimas do infortúnio entre nós são de consumidores medianos, com baixo poder aquisitivo. O mercado não sentira o impacto de sua ausência. Agora percebemos a importância do Estado. O mercado, o interesse mesquinho de uns poucos, não nos vê como homens e mulheres, nos vê como mercadoria, e mercadoria de pouco valor, mercadoria descartável. Agora olhamos para o Estado e cobramos que haja ciência, que haja pesquisa, que haja médicos, hospitais, leitos, SUS. Mas como haveremos de ter ciência se não tivermos escolas?  A ciência há de encontrar a saída para o infortúnio do corpo, mas e o espírito? Um corpo sadio sem uma alma sã é um autômato, continua mercadoria de pouco apreço. O que alimenta a alma é o conhecimento o estudo a arte. O mercado não nos oferece educação, conhecimento, arte. O mercado nos oferece mercadorias, entretenimento e uma função na engrenagem que o faz girar. Sem Estado somos apenas cifras e cifras de baixo valor. Sem Estado não temos escolas, não temos cientistas, não temos médicos, não temos hospitais, não temos arte e cultura. Mas não basta ter Estado se quem o governa o apequena, o rebaixa, o submete às regras do mercado. Não basta ter Estado se quem o governa não o preza e o reduz a capacho.

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