domingo, março 22, 2020

DEUS É AQUILO NO QUE ACREDITO



Para Bono Fox

“Deus deixou o homem livre para ser ele mesmo, se assim o quiser” (Nicolau de Cusa)

Segundo Albert Jacquard, geneticista francês, uma invenção não é perniciosa, perniciosa pode ser a utilização que se faz dela.  E diz que já Lucrécio, cerca de 55 a.C., considerava os deuses uma invenção, que era, segundo ele um desastre para a humanidade.
Já próximos a nós, Freud, Marx e Nietzsche combateram a religião acusando-a de infantilismo, ópio, ressentimento. Todos eles cobram aos homens a responsabilidade de assumirem o próprio destino e se autodeterminarem.
Para Jacquard, “o próprio do homem é a capacidade para participar de seu destino, pensar no futuro, discernir as bifurcações possíveis, portanto, desejar e tornar-se o que decide ser”. E “nossa dignidade reside na nossa recusa das obrigações impostas pela natureza”.  Assim, “na medida que as religiões propagam uma mensagem de submissão, vão contra o potencial humano...”
No entanto, Jacquard reconhece que “uma religião é uma estrutura social que contribui para a evolução da comunidade” se orienta a ação de seus adeptos no sentido de uma libertação.
Jacquard distingue, assim uma religião fechada, que aposta no fanatismo, na crença de possuir a verdade que impede a indagação, o questionamento, de uma religião libertária, que oferecem meios para seus adeptos se orientarem, refletirem e evitarem certos impasses. Assim, para Jacquard: “se uma religião lhe permite tornar-se aquele que você deseja ser, ela constitui uma vantagem.”
Uma coisa são as religiões, outra coisa é Deus. Existindo ou não, fruto ou não de nossa imaginação, Deus é uma expressão carregada de sentido que conduziram a humanidade a elaborar uma ética, a instalar modos de vida coletivo, a desejar ser mais (uma expressão freireana).
Implicitamente Jacquard defende que o esclarecimento, o conhecimento das forças e dos elementos que regem o universo, nosso organismo, nosso cérebro, aliado a nossa autodeterminação nos bastam. Eu não discordo, mas tenho um Deus em que acredito.
Para mim Deus é a ilusão que nutro de que podemos instaurar um mundo comum que permita a diversidade, a pluralidade, a inclusividade, um mundo em que eu possa ser o que eu me determino ser e o outro, sem o qual eu não saberia ser, seja o que ele se determina ser.
“Eu creio num Deus que não existe” Christine Ramos.



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