terça-feira, março 24, 2020

CONSCIÊNCIA




           A consciência não é uma iluminação repentina; é uma lenta e progressiva saída da “caverna”, assumindo um lugar no seio da sociedade, um lugar de incisão, não apenas de paisagem.
          A consciência é memória, experiência, imaginação, criação; está entre as perguntas que nos fazemos, aquelas que dizem de nossa existência, da tragédia que somos, e as respostas sempre vacilantes, incertas-certezas, que nos vamos dando.
         A consciência é um exercício de compreensão de si no mundo, com o mundo, do mundo. Ela alimenta da observação-reflexão, pessoal e coletiva das manifestações do mundo e de si com o mundo, no mundo, propondo-se um mundo.
        A consciência amadurece demoradamente. Não é dada, a ela se chega.
        É preciso se desalojar das “verdades inquestionáveis” e das opiniões idelogizadas, mais verdade que a verdade. A consciência é um constante descontentamento com o estado da coisa e de si. É um exercício intelectual, não de intelectuais apenas, ancorada no conhecimento do tesouro cultural que o passado nos lega. Sem saberes a consciência é como água parada, estagna. É da natureza da água renovar-se: “Não se entra no mesmo rio duas vezes, suas águas são sempre outras” (Heráclito). É da consciência procurar saber.  
          A consciência é saber que existimos para nos tornarmos pessoa; imaginando e implementando um amanhã favorável com o que está ruindo. Não obstante o infortúnio, somos uma espécie que espera e cria as condições de nossas esperanças. A consciência transita do agora ao devir, recolhendo saberes: os saberes são sempre passado.
          Consciência é tornar-me responsável, não por mim apenas, mas pelo que engloba o nós. Só há amanhã coletivamente. A consciência, mesmo de mim, é coletiva.  Não consciência onde não há compromisso social.  

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