sábado, janeiro 16, 2021

UMA CARROÇA SEM RUMO

A carroça com um certo carroceiro avançava lentamente, puxando para a esquerda. Alguns diziam que o problema era nas rodas, outros nos cavalos. Mas tem quem dizia, e ainda hoje afirma, que o problema era o carroceiro, que, mesmo conduzindo a carroça com distinção, a ponto de a carroça ser admirada na região, tendia a levar a carroça para o buraco. Entre os que colocavam responsabilidade no carroceiro, tinha um grupo interessado não na carroça, mas em partes importantes da carroça. Estabeleceram a tese de que se ajustava o seu andar diminuindo o descanso e a alimentação dos cavalos, propunham rever o regime de adestramento, reduzir preparadores, vender equipamentos. Há quem defendesse que a carroça não necessitava freios, que aos cavalos se dispensava as ferraduras. Para implementar seus interesses, fomentaram um tipo tosco, de conversa grosseira, que vivera uma vida encostado a um pé de laranja cuidando dos negócios da família. Um conluio se fez em torno dele, para que ele assumisse a carroça. Com a ajuda de pastores, especuladores e boateiros o tosco cultivador de laranjas ganhou legenda. Os que o produziam sabiam de sua inércia e de seu caráter grosseiro, que seu único interesse era os negócios da família. Por isso, era perfeito. Assim, conduziram todo o processo. Não o deixavam falar e tranquilizavam o vilarejo: “quem iria colocar a carroça no prumo seria um jênio*, ele apenas assumiria a cochia. Para levar a cabo o projeto de assédio à carroça, contaram com a ajuda do jornal local que se passa por isento e de um juiz de roça. Assim, de um funesto, produziram um carroceiro. O fato é que com ele, a carroça não avança e se destroça. O jênio que tudo sabia e a ajustaria à direita tornou-se cartomante e, em cartas marcadas, lê sinais de retomada. Mas o vil imbecil que promoveram a carroceiro anuncia: “A carroça está quebrada! Não posso fazer nada!” Os que o colocaram como carroceiro se consolam: “a culpa não é dele; é daquele cachaceiro!” Desgovernada, a carroça se arrasta ao despenhadeiro. Se a história não nos acaba bem, eu digo: Em política nada é casual. Foi para isto que colocaram o funesto de carroceiro. Há abutres interessados nos destroços da carroça.  

 

* Jênio é a forma correta de grafar pessoas que se acham donos de um conhecimento ou experiência que não tem, que se vendem como solucionadores de crises e as aumentam.

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