quarta-feira, outubro 05, 2016

NON DUCO, DUCOR


Nós não queremos o incomodo da ação, sempre incerta em seus resultados. Nós queremos a ilusão de que as coisas ou “são assim mesmo” ou “se ajeitam”. Não queremos revoluções, queremos um lugar à mesa do patrão, do senhor, queremos de suas migalhas. A ação é sempre incerta, ao fim podemos perder o pouco que não temos, é melhor sermos tangidos contando com a graça de Deus. Nosso salário é pouco, mas o senhor sempre nos oferta os sapatos gastos de seus filhos e os brinquedos que eles já não querem mais. Nosso alimento é pouco, mas a boa senhora nos permite trazer as sobras de sua mesa. Temos a inquebrantavel paciência da espera diária por um transporte que nos conduz como gados. Sonhamos no aperto da lotação, do trem, do metrô, com nosso carro, por isso somos solidários ao sofrimento de nossos senhores que não podem reduzir a velocidade de seus carros e ceder espaço a pedestres e ciclitas. Nós não queremos o incomodo e as incertezas da ação, queremos assistir nossa novela, nosso futebol, nossos programas de auditóro e acreditar que não importa quem nos governa, desde que nos prometa que amanhã, amanhã, nossas escolas serão como as escolas de seus filhos e que seremos empreendedores: donos de algo que nunca foi nosso, a força de nosso trabalho... Gostamos de pessoas que dizem: “farei por você, não se preocupe!” Não gostamos de quem nos convida a participar a “fazer juntos”, não queremos o incomodo de decidir, queremos a promessa de ter, mesmo que nos seja tirado. Queremos ser tangidos, não conduzir.

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