Uma
das versões do infortúnio do jovem Tirésias informa que o mesmo pastoreava próximo Uma
das versões do infortúnio do jovem Tirésias informa que o mesmo pastoreava
próximo às fontes de Hélicon, e sentindo sede Tirésias procurou deter-se a
tomar água, para sua surpresa a deusa Atenas ali se banhava em companhia de
Cáriclo, ninguém mais que a mãe de nosso jovem pastor. Tirésias, segundo o
cronista da época, “sem querer, viu o que não é lícito ver”. Por tal motivo, o
jovem pastor, de imediato, foi punido à perda da visão. Abaixo de rogos da mãe,
Atenas, que nada podia fazer, pois não podia revogar a lei de Cronos: “quem
observar um dos imortais sem que o próprio deus concorde, paga alto por tê-lo
visto”, bem observou: “o ato, quando se cumpre, não é mais revogável”. Mas
diante do sofrimento materno, para consolar sua bela companheira, Atenas
concedeu ao jovem Tirésias um dom inimaginável. “Ó companheira!”, disse,
complacente, a divina Atenas, “não te lamentes por isso; a ele, por teu favor,
muitos outros prêmios estão, por mim, reservados: farei dele um adivinho digno
de ser cantado pelas gerações futuras, de certo, ele será muito mais notável do
que qualquer outro”. Tirésias habitou em Tebas e chegou a viver oito ou nove
gerações, sendo o mais respeitado clarividente de toda mitologia grega.
Menos
afortunado que Tirésias foi, na mitologia latina, a sorte de Acteon. Conta a
lenda que o jovem caçador, criado pelo centauro Quíron, perdeu-se de seus
companheiros de caça e se deparou próximo à fonte onde Diana e suas ninfas
banhavam-se. As ninfas percebendo sua presença, “gritaram e correram para junto
da deusa, tentando escondê-la”. E Diana, enfurecida, longe de suas flechas,
pegou um pouco de água e jogou na cara de Acteon e disse: “Agora vai e conta,
se puderes, que viste Diana desnuda”. O jovem caçador transformou-se em cervo e
foi perseguido e sacrificado pelos cães de caça da deusa, que o consumiram
enfurecidos... Dizem serem tais cães caçadores inadvertidos, também apanhados a
contemplar Diana em suas abluções...
Tia
tinha sua versão para Ágabo e Agatão.
Nós
ainda não sabíamos o que era realejo. Vimos um acompanhando tia à cidade. Um
senhor coxo e cego manipulava uma maquina emitindo uma alegre canção. Sobre tal
máquina, uma gaiola com um periquito e uma gaveta com vários papeizinhos. Um
grupo de curiosos rodeava o velho com sua curiosa engenhoca. Tia também se
deteve, aproximou-se, tirou uma moeda do bolso e a depositou na máquina: “Vamos
lá Agatão”, falando com o periquito, “minha fortuna”. O periquito retirou um
dos papeizinhos da caixa e o depositou na mão estendida de tia. Tia tomou o
papelzinho e o guardou seguro dentro do sutiã para que, em casa, a prima o
lesse. A tarde não passava tal nossa curiosidade para saber o que dizia o
papelzinho. As horas se estendiam intermináveis e a noite não caia.
Finalmente
veio o momento esperado, vó cerzia umas camisas de tio, quando tia, engomando,
começou: “Em remoto tempo, lá pelas bandas de Santa Luzia, contam, vivia certa
Diana, benzedeira e parteira respeitada e temida, acreditavam ser feiticeira.
Tal Diana, contam, tinha vistosa filha de nome estranho, não me recordo bem,
mas me parece, Algama se chamava a filha de Diana. Contam que tal moçoila era
costumada a buscar água finzinho de tarde no ribeirinho próximo. E que a tal
costumava aproveitar para banha-se... Tinha pelas bandas de Santa Luzia dois
irmãos muito abusados, dados a traquinagens e invencionices. Combinaram expiar
a bela moça no ribeirinho e esconder-lhe as roupas, esperando ela voltar nua
para casa. Então, Agatão e o irmão Ágabo, que puxava uma das pernas, procuraram
atuar o planejado. Não sabiam os malandros o que os esperavam. E foi Ágabo quem
assim a história me contou: “Descemos ao ribeirinho, eu e Agatão, para pregarmos
uma peça na bela filha de Diana. Nós nos escondemos atrás de umas pedras e a
esperamos desnudar-se. Mas, nada! Vimos foi a jovem tornar-se uma bela cotiara.
Estupefatos com o que víamos, não demos conta da enorme coruja que nos
alcançava. Desfaleci. Acordei já em casa, cego. Agatão ficou um tempo sumido.
Um dia posou em meu ombro, neste periquito. De Diana e da filha nada mais soubemos.
Lembro-me apenas de uns olhos enormes de coruja sobre nós e da bela cotiara serpenteando
as águas do riachinho... ”
Tia
tomou prima de lado para ler-lhe a sorte. Curiosos aguardávamos. Tia pôs-nos a
dormir com severa reprimenda: “no desejo e na fortuna de outrem, quem o olhar
lança a vista perde”. E vaticinou contra prima: “e tu, mocinha, se contares, rã
serás.” Até hoje prima se faz de muda, quando tocamos no assunto...
“Ei
Agatão! Minha fortuna.” Estendo ao velho Ágabo uma nota de cinco reais...
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