Fora
apenas uma alucinação... Olhos verdes claros, pele rosada, cabelos castanhos,
lisos, escorridos, lábios finos, sorriso tímido, seios pequenos... Fora apenas
alucinação, um sonho talvez.
Era
uma manhã fria de terça-feira. Acordei nauseado. Levantei-me. Tomei um banho rápido.
Vesti-me sem pressa. Liguei o radio. No lugar do café, tomei dois copos
seguidos de conhaque. Abri a janela, a brisa úmida e fria bafejou-me o rosto.
Não se via a cidade coberta pela névoa...
Brigitte
era um sonho, a aluna exemplar. Tímida, sentava na primeira fileira, terceira
carteira. Aplicada nos estudos, falava apenas o necessário... Brigitte era um
sonho realizando-se...
Eu,
de fato, não me sentia acordado. O banho, o conhaque no lugar do café, a manhã
fria tomada de nevoeiro, não me era real. Brigitte não era real... Acendi um
cigarro, acompanhava o noticiário, folheando uma revista tomada por acaso.
Tomei outro conhaque...
Não
era Brigitte naquele vestido curto, colado ao corpo, os seios saltando ao
decote... Era uma alucinação, um sonho: “Professor, eu te quero em mim. Todo
dentro de mim”... Brigitte a aluna perfeita, sorrindo-me, tragando de meu
cigarro... Tomei outro conhaque, fumei outro cigarro... O corpo alvo, quente e
perfumado de Brigitte pulsava sobre mim, a menina tímida dizia coisas obscenas
em meus ouvidos; seus lábios, doces lábios, roçavam meu corpo, sugavam-me...
Brigitte
não era real, sua voz chamando-me para o quarto “vem, volta pra cama, vamos
brincar mais um pouco”, não era real...
Ouvi
um estrondo, antes que eu reagisse, a porta veio abaixo... Dois policiais
empunhando suas armas: “onde está a menina? A menina, onde está a menina?”
Não
soube o que responder. Não entendia o que eles perguntavam...
Eu
alucinava...
“A
menina, a menina, a menina???”...
Aquele
corpo nu, frio, plastificado... Não, não era Brigitte. Não era Brigitte...
*****
“Na
manhã desta terça-feira, a polícia recuperou uma boneca de manipulação do Centro
de Estudos Aplicados ao Esporte (CEAE), que estava desaparecida desde a última
quinta-feira. Chamada “Menina” pelos acadêmicos do CEAE, a boneca foi
encontrada em poder do professor Adhimanto Couto, titular do curso de
Antropologia e Cultura do Esporte, em um quarto de motel. Em depoimento à
polícia, o professor apenas perguntou por uma certa Brigitte Bardot, segundo
ele uma sua aluna. Mas a direção do CEAE informou não haver nenhuma aluna
matriculada com o correspondente nome.” (24 de maio de 2011, Diário da Manhã)
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