“A literatura utiliza da palavra, como o pintor das tintas, para criar arte” Christine Ramos
A pergunta
no título deste texto foi lançada por Ademiro Alves de Sousa (Sacolinha)
durante o EducaShow, que ocorreu entre 25 e 30 de abril, no Parque Max Feffer,
Suzano. Participei da conversa com meu compadre Marco Maida e o poeta e
dramaturgo Matheus Borges. Entre os presentes destaco a presença do poeta Vandei
Oliveira, o Poeta Zé, e acompanhado da esposa Cristina Domingos, o filósofo Elvis
Almeida, sempre com uma pergunta provocativa. O que segue é um exercício de
pura divagação a partir do que lá foi dito.
A
linguagem humana é variadíssima, além de complexa. De um galho de árvore
quebrado intencionalmente à uma pedra cinzelada, de entalhes em um tronco de
árvores a nós em um cipó, de um aceno de mão a um dedo em riste ou sobrepondo
os lábios, o ser humano comunica saberes, sentidos, sentimentos, emoções. A
palavra, das muitas formas de o ser humano se dizer e dizer o mundo, é a mais
complexa porque a mais sofisticada. E ela se presta a muitos usos. Ela acessa, organiza,
fixa, conserva, disponibiliza, compartilha o particular de cada indivíduo ou
coletividade. Jogando com a memória, o imaginário, a intuição, a criatividade,
resgata o passado, descreve o momento presente, prospecta o futuro. O uso da
palavra torna o humano acessível, mas, ao mesmo tempo, com a palavra “o homem mata mais que com faca”, dizia minha
avó. O ser humano não é só linguagem, mas sem a linguagem, não seria este ser
sendo.
A literatura
é uma forma de uso da palavra, não da língua. A língua é como a pedra para o cinzel:
a palavra; é algo bruto clamando o entalhe, o polimento. Da língua faz uso as
ciências, as religiões, a política, cada uma dessas manifestações e outras tem
a língua como árvore a ser talhada pela palavra a seu modo. A língua pede
beleza, não apenas precisão lógica, rigor gramatical ou reverencial.
O
literato, como um construtor de mosaicos, toma a palavra como a cacos
cerâmicos, alinhava-os em sentimentos, em emoções, em sensações, em pensamentos,
e dá à língua um lugar-oásis entre os desertos que permeiam nosso cotidiano de
falas rudes e perversas.
Não é
o lugar que define a literatura. É o escritor, no seu talhar a palavra, dando à
língua nuances de sons, sabores, ritmos, cores de seu lugar, que o eleva e o universaliza.
Não há literatura deste ou daquele lugar. Há o escritor, que tornando bela a língua
de seu lugar, eleva o lugar de onde escreve. O Além Tejo do Pessoa, a Itabira
do Andrade, não seriam, não fossem o Pessoa e o Andrade. Não há literatura do
Alto Tietê, a quem faça deste cinzel instrumento para ornar a língua do lugar e
tornar a realidade menos bruta. No Alto Tietê há escritores de muita
excelência, alguns já brilham para além de suas fronteiras. Em suas conquistas
pessoais, nossos escritores tornam o alto Tietê mais altivo, e, ao revelar-nos
ao mundo, estimulam novos escritores.
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