terça-feira, dezembro 21, 2021

PEDIOFOBIA

 

Havíamos acabado de esculachar uns pretinhos cheios de “meus direitos pra cá”, “meus direito prá lá”, e o Saldanha foi logo dando a letra: “Ohh cidadão, teu direito é um fato isolado de bala perdida, estamos entendido?”, seguiu-se o “plaft” do safanão. Estávamos, então, ali na padoca da Florentino, degustando tradicional iguaria, quando recebemos um chamado de ocorrência em andamento. Era por volta das 22h e tratava-se de violência doméstica. Chinelamos ao endereço indicado, a mansão do honorífico pastor Abderaldo. Aqui era preciso seguir o manual e manter cortesia no trato e evitar esculacho e ou vexamento do pastor e familiares. À entrada da residência, em pijama, encontramos a Senhora Abderaldo armada de arma branca: uma faca de carne, gritando impropérios, fazendo ameaças. Com esmerada delicadeza e paciência, fomos contornando a situação. Aos poucos, a digníssima senhora amainou os ânimos e pôs-nos a par da situação: “Este desgraçado, filho da puta, disse-me que trabalharia até mais tarde no escritório, que tinha sermão para preparar, e precisava estudar as Escrituras. Eu querendo, fazer um agrado, preparei um drink e levei para ele. Qual não foi minha surpresa: o desgraçado estava fazendo sexo com um boneco inflável. Não, vocês não ouviram errado não, o desgraçado com um boneco inflável. Fosse, ao menos, a Juelmira, nossa colaboradora, mas um boneco? Fosse a Taizinha, minha filha, mas um boneco?. ” Nisto a digníssima senhora inflamou-se novamente de ira e lançando o impropério: “seu desgraçado, destruidor de lares!”, avançou contra o pacífico boneco, retalhando-o todo, recitando trechos da Escritura. A mesma foi conduzida à 14º DP e atuada por pediofobia. Lavrado o boletim de ocorrência, chinelamos de volta à padoca da Florentino, para mais uma rodada de coxinhas.  

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