Na minha adolescência, nutri um romance platônico com a modelo e atriz Magda Cotrofe. As poucas economias que juntava, consumia com minha musa. Por sua causa, crie rusgas entre pai e mãe. Pendurei seu pôster da Playboy na porta do quarto. Mãe ofendida, requisitou a intervenção de pai. Pai foi ter comigo. Namorou um bom tempo minha garota, depois explicou a inconveniência do pôster: “Sua mãe, suas irmãs... Não fica bem... Deixa debaixo do travesseiro, entre suas coisas, para quando você estiver só...”. “Eh ai?”, indagou mãe. “O menino tem bom gosto!”, respondeu pai. Esta resposta rendeu dias de silêncio incomodo entre os dois. Por esta época, além da Cotrofe, eu nutria outro amor platônico por uma comadre de mãe, Maria Rita. Maria Rita tinha um lance quântico esotérico. Conversando com mãe, explicava-lhe que meu romance com a Cotrofe era ressonâncias de mundos paralelos: “Em algum desses mundos, o Niko e a Magda são irmãos, em outro colegas de escola, em outro namorados, mãe e filho...” Eu ouvia estas coisas de soslaio, de espreita, escondido, sacando Maria Rita, embebendo-me de seu perfume, alucinando-me de sua voz. Neste mundo, a Cotrofe era apenas um papel em minha parede e Maria Rita uma presença intocável. A adolescência passou, mas minha capacidade de cair de amores não. E, por estes dias, na ante sala do dentista, folheando uma revista, me dei com uma amiga. Ela sorriu-me endossando um conjunto de lingerie lilás. Disfarçadamente arranquei a página da revista e a guardei para mim. Num outro mundo, e nele me estabeleço, ela já não endossa mais a lingerie e sela-me um demorado beijo.
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