Quando o dia da paz renascer, quando o sol da esperança brilhar, eu vou cantar. Quando o povo nas ruas sorrir, e a roseira de novo florir, eu vou cantar. (Pe. Zezinho)
“Quando nasci, um anjo louco disse-me: “Vai,
irmão, ser insano na vida!” (Eurípedes dos Santos)
Eu
sempre acreditei que eu havia nascido para ser breve, às varias permanências em
hospitais na infância, apontavam para isto. Postulei não passar dos trinta.
Cheguei e passei a ensaiar não chegar aos quarentas. Foram ensaios tímidos e
erráticos, que me ensinaram que entrar e sair da existência, não nos pertence.
Podemos decidir o salto, não o seu sucesso. Cabe à amada, de seu reino do não
ser, aceitar-nos ou não eu seu regaço. Se não for de sua vontade, a corda não
arrebenta, o choque apenas atordoa, perdemos o fôlego mas não nos afogamos, a
queda te arrebenta, os ossos quebram, mas o corpo não dilacera, a existência
não esvai. Tenho, portanto, aguardado que ela se me apresente e me conduza em
seus braços, para seu reino do não ser. Há dias, porém, que abro o noticiário,
e as noticias convidam-me a novos ensaios. Uma voz me confidencia: “insano é
querer existir ainda mais um dia. O amanhã não há de ser melhor, os botões não
florescerão, cães fardados de arrogância pisotearão as sementeiras; árvores
serão desenraizadas antes dos frutos. Os que sonham um outro mundo, em que não
sejamos números – números numa estatística perversa, marcada por balas
perdidas, genocídio estatal, serão sufocados durante o sono. Os que empunham resistência, e gritam palavras de ordem, como
se dissessem algum código mágico, capaz de dar-nos outra ordem, outro mundo,
sentirão a mesquinhez, a ignorância soberba e desumana dos capitães do mato e
de seus senhores. Mais uma vez a utopia do amanhã fraternal sucumbirá à
ideologia Nazo-facista. Amanhã não haverá canção, a poesia será silenciada, o
ódio prevalecerá.” Eu nasci para ser breve, num mundo de poucos encantos, vou
existindo. E existindo, há dias rente ao desespero. Haverei, amanhã, de entrar
em outra batalha perdida. Enquanto minha amada não me acolhe em seus lábios,
entrar em batalhas perdidas é minha sina... Minha insanidade, num mundo que nos
elimina por sermos quem somos, é acreditar na utópica fraternidade: O dia da
paz é só uma ilusão que me sustenta, enquanto minha amada não me abraça. Ser
visitado por ela, no dia em que entrei na existência, seria um presente. Mas,
tudo indica que essa sua visita, infelizmente, deve ficar para amanhã. O amanhã
da estupidez, da canalhice, do ódio, marchando braços dados, contra minhas ilusões...
Nunca desejei tanto ser mais breve.
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